Pesquisa de mestrado de Vilson Rodrigo Diesel Rucinski analisou comentários em postagens sobre a greve de 2015 dos educadores da rede estadual de ensino do Paraná, para constatar a identidade dos docentes forjada naquela mídia digital
Por Wagner de Alcântara Aragão
“Mal preparado”, “massa de manobra”, “a docência como um dom”, “a incompetência da escola pública” e, por outro lado, resistência e defesa da atividade docente e do ensino público. Essas foram as principais regularidades identificadas em comentários na rede social facebook acerca da identidade do profissional do magistério. A constatação faz parte de uma pesquisa de mestrado defendida nesta semana (quarta, 7 de junho) pelo acadêmico Vilson Rodrigo Diesel Rucinski, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), câmpus de Curitiba.
Intitulada “O discurso sobre a identidade docente em espaços de escritas online: valoração e reenunciação discursiva”, a pesquisa analisou 180 comentários de 20 postagens feitas pela APP-Sindicato (entidade sindical dos professores e funcionários de escolas da rede estadual de ensino do Paraná) durante a greve dos docentes em 2015 (fevereiro/março e março/abril). Uma das maiores paralisações da categoria, a greve teve repercussão nacional por ter sido violentamente reprimida em 29 de abril daquele ano, pelas forças policiais a mando do Governo do Estado.
Dos 180 comentários analisados, 28 foram de professores, 22 de pais ou responsáveis, 21 de estudantes e outros 102 sem que o autor tivesse se identificado em uma ou outra condição.
REGULARIDADES DISCURSIVAS
Conforme explicou o autor da pesquisa, embora as regularidades identificadas tenham sido divididas nas classificações mencionadas, tais regularidades estão interrelacionadas. Ao criticar a qualidade da escola pública, por exemplo, os discursos constatados apontam para a má preparação dos docentes, exemplifica Diesel Rucinski. “Há uma culpabilização dos professores pelos problemas. Os professores das escolas públicas são os mesmos das escolas privadas, em grande maioria. Por que só os das escolas públicas são tidos como mal formados?”, questionou o pesquisador, em sua banca de defesa.
Para o acadêmico, o discurso verificado com frequência de que a docência decorre de um “dom” acaba por legitimar a precariedade nas condições de trabalho. Afinal, frisou o Diesel Rucinski, por essa lógica, “pela docência ser um dom, é como se o professor não precisasse de melhores salários”. Diesel Rucinski ressaltou a relevância do diagnóstico. “É importante que a gente entenda esses discursos depreciativos para lutar contra isso.”
VOZES DE RESISTÊNCIA
Em contraposição a esses discursos depreciativos, um conjunto de comentários os quais o pesquisador classificou como “vozes de resistência” também foram regularmente encontrados. “Há também um discurso positivo, o de que o professor vai à luta, de que ‘ensina’ democracia indo para as ruas defender seus direitos”, sublinhou Diesel Rucinski que, formado em Letras, em 2015 lecionava na rede estadual de ensino. “Vivi essa greve como professor e resolvi [com o projeto] analisar a situação na condição de pesquisador.”
A pesquisa faz parte do Mestrado em Estudos de Linguagens, do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens, da UTFPR, e teve orientação da professora doutora Nívea Rohling. Foram examinadoras na banca de defesa as professoras doutoras Adriana Cabral dos Santos e Maria de Lourdes Rossi Remenche, da UTFPR; e ainda a professora doutora Rosângela Hammes Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O presidente da APP-Sindicato, professor Hermes Leão, assistiu à apresentação e defesa da pesquisa.
O Mestrado do PPGEL foi implantado em 2015 e a pesquisa de Vilson Rodrigo Diesel Rucinski foi a segunda defendida na história do programa. O resumo do trabalho pode ser conferido clicando aqui.
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A não dedicação exclusiva nos faz transitar nos dois sistemas de ensino, fato comum também entre os profissionais de saúde, mas a depreciação recai sempre na pública, isto é um forte sinal de que a mídia massifica sua visão tacanha de alinhamento com a ideologia da tal ESCOLA SEM PARTIDO.