Sábado das Campeãs encerra desfiles de 2019

Confira balanço da Rede Macuco (que cobriu as apresentações do Rio de Janeiro) sobre as seis escolas que voltam à avenida e, também, sobre as que ficaram de fora da Apoteose

Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista) | Do Rio de Janeiro (RJ)

Mocidade, Salgueiro, Portela, Vila Isabel, Viradouro e Mangueira.

Nessa ordem, as seis escolas voltam a se apresentar na Passarela do Samba Darcy Ribeiro, na Avenida Marquês de Sapucaí, para encerrar os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, de 2019, no grupo especial. É neste sábado, dia 9, o Sábado das Campeãs, o Desfile da Apoteose.

A Rede Macuco cobriu as duas noites de desfiles oficiais, da concentração (a Riotur, inexplicavelmente, não nos liberou credencial que permitisse acompanhar da armação e da dispersão, o que possibilitaria um acompanhamento mais consistente da festa a qual acompanhamos desde 2006).

Mesmo com restrições, conseguimos, pelo nosso perfil no twitter e no instagram, transmitir informações em tempo real – algumas inclusive inéditas ou em primeira mão, como o problema com a última alegoria da Paraíso do Tuiuti, que quase não entra na avenida e prejudicou a evolução da escola.

E conseguimos, ao final, traçar prognóstico com 75% de acerto. Apontamos, na manhã da terça-feira de Carnaval, depois que a Mocidade encerrou os desfiles, que a disputa do título ficaria entre Mangueira, Viradouro, Vila Isabel e Beija-Flor. Na quarta, a apuração confirmou Mangueira em primeiro, Viradouro em segundo e Vila Isabel em terceiro.

Fonte: Liesa

Trazemos, a seguir, um resumo das apresentações das escolas que voltam para o Sábado das Campeãs, e também das que ficaram de fora da Apoteose:

MANGUEIRA, CAMPEÃ
A Mangueira contou com muita beleza, garra e precisão a história que a história não conta. A apresentação foi importante não só para o mundo do Carnaval, mas para a sociedade brasileira refletir sobre fake news históricas – como o heroísmo de Duque de Caxias, o desbravamento patriótico dos bandeirantes – e recentes (a de que não tivemos uma ditadura assassina). Apesar da bonita letra, o samba-enredo, consideramos, não foi tão forte, pela melodia, que poderia ter vindo mais forte. Pelo menos duas alegorias trafegaram expelindo forte fumaça do motor, quando em manobras e arrancadas, poluindo pista e frisas. Em que pese um e outro problema, mereceu o título, sobretudo pela força do enredo.

VIRADOURO, VICE-CAMPEÃ
Fez desfile típico das apresentações comandadas pelo seu carnavalesco, Paulo Barros: pirotecnia, carros alegóricos com efeitos mecânicos e coregrafias humanas, adereços e fantasias vistosas. Elementos que despertam a atenção do público. Careceu, todavia, de um enredo mais consistente. Um espetáculo plástico, mas de pouco conteúdo (uma suposta fábula). O samba-enredo teve o mérito de ser chiclete. Foi a única escola a passar aclamada pelo setor 1 com o grito de “é campeã!”.

VILA ISABEL, 3ª COLOCADA
A escola com o desfile mais bonito, envolvente. Uma avalanche, desde que pisou a avenida em frente ao setor 1. O enredo e o samba, intragáveis pelo ufanismo ao falara de Petrópolis como herança do período colonial, foram minimamente consertados na passarela, pelo intérprete, Tinga, que conseguiu fazer a Sapucaí cantar junto, e por denúncias à escravidão e exaltação da resistência negra, no último setor do desfile – familiares de Marielle Franco, em memória à luta da vereadora, vieram na alegoria final.

PORTELA, 4ª COLOCADA
Havia grande expectativa em torno da homenagem a Clara Nunes. De fato, o enredo foi muito bem desenvolvido. Foi uma apresentação esteticamente impecável – muitas cores, muitos elementos cenográficos caprichados. A sensação entre os que assistiram ao desfile da passarela foi o de que, no entanto, faltou algum detalhe, um pequeno algo mais para dar o título à escola de Oswaldo Cruz e Madureira. A apuração confirmou essa sensação. No Sábado das Campeãs, com regulamento menos engessado, tem tudo pra fazer uma festa na passarela.

SALGUEIRO, 5ª COLOCADA
Se as alegorias, adereços e fantasias não foram tão suntuosas como o das escolas que terminaram à frente, o Salgueiro foi muito superior em samba-enredo, e em quesitos que são a essência do desfile – como, além do samba, o enredo (Xangô) e a bateria. A dupla de intérpretes – Emerson Dias (estreando) e Quinho (voltando) – puxaram a escola e a arquibancada. Deve fazer um desfile espetacular na Apoteose.

MOCIDADE, 6ª COLOCADA
Começou com força de campeã, mas caiu no último quarto do desfile – inclusive prejudicada por desfilar já com sol raiando, na terça, arquibancadas se esvaziando, foliões cansados. O enredo abstrato foi puxado por um samba extraordinariamente entoado por Wander Pires, em excepcional fase (junto com Tinga, os melhores no quesito, neste ano). E a bateria, como sempre, show à parte. Promessa de bela festa no Sábado das Campeãs.

UNIDOS DA TIJUCA, 7ª COLOCADA
Também teve de enfrentar o desfile matutino – passava das seis da manhã de segunda quando se apresentava. Fantasias, alegorias e adereços vistosos, harmônicos, compensaram um enredo que dava pinta de não se sustentar (a história do pão), mas sim, se sustentou. Wantuir conseguiu tornar o samba numa prece comovente. Os componentes vieram com muita garra.

PARAÍSO DO TUIUTI, 8ª COLOCADA
Merecia ter voltado para o Sábado das Campeãs, pelo enredo consistente (Bode Ioiô e denúncia política), pelo samba cativante, pela garra dos componentes, pela alegoria colorida por adereços e fantasias vistosas. Teve problema de evolução no final do desfile – o último carro alegórico enfrentou problemas e quase não é consertado a tempo. A crítica mais ousada, ácida, militante pode não ter obtido a simpatia dos julgadores.

GRANDE RIO, 9ª COLOCADA
O enredo – os deslizes, as infrações, o jeitinho – foi bem contado, e plasticamente foi um desfile atraente, puxado por uma bateria envolvente, e menos acelerada como o de costume. Faltou um samba mais consistente e agradável, que não foi compensado pelo luxo da apresentação.

UNIÃO DA ILHA, 10ª COLOCADA
Conseguiu apresentar o Ceará, por meio das obras de Rachel de Queiroz e José de Alencar. Surpreendeu com o Padim Ciço voador na comissão de frente. Ito Melodia conseguiu salvar um samba desproporcional à riqueza do enredo. Merecia uma colocação melhor.

BEIJA-FLOR, 11ª COLOCADA
Claro que não foi a tsunami de carnavais anteriores, todavia a colocação obtida não condiz com o desfile na avenida. Veio com alegorias com movimentos mecânicos e de componentes; um bom samba como sempre bem puxado por Neguinho da Beija-Flor e equipe. O enredo – os 70 anos da escola – é que pode ter ficado aquém do esperado.

SÃO CLEMENTE, 12ª COLOCADA
A maior injustiçada. Fez um desfile animado, vistoso, com enredo consistente, objetivo – críticas à mercantilização do Carnaval. Talvez justamente por isso tenha sido punida: por ousar mexer em feridas. Cutucou até a virada de mesa ano passado que impediu o rebaixamento da Império Serrano e Grande Rio. Merecia voltar para o Sábado das Campeãs.

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE, 13ª COLOCADA
A penúltima colocação faz a tradicional escola cair para o grupo de acesso. O samba, embora ruim, pegou, por ser chiclete. O enredo – o dinheiro – teve ponto alto na crítica à escravidão. Fora isso, ficou, porém, preso a clichês – poderia ter partido para uma crítica mais consistente, densa. Mas a Imperatriz vai fazer muita falta ano que vem.

IMPÉRIO SERRANO, 14ª COLOCADA
O desfile foi animado, o povo cantou o samba – O que é o que é, Gonzaguinha  -, o enredo foi bem desenvolvido. Faltou o luxo, o requinte, a pirotecnia, afinal se trata de uma escola como menor poder financeiro, embora das mais tradicionais e emblemáticas do Carnaval do Rio. O que comprava acertadíssimo o enredo da São Clemente, que questionou os critérios para se avaliar um desfile.

Imagem em destaque: alegoria da Mangueira que denuncia os povos dizimados pelos que a história oficial chama de heróis. Por @waasantista


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