Trabalho de indígenas no Pará é premiado pela ONU

Produção de óleo de babaçu menire, por mulheres Xikrin, é preservação cultural e ambiental, além de oportunidade de renda

Por Roberto Almeida, do ISA | De Bacajá (município de Senador José Porfírio, PA)

O óleo de babaçu menire, produzido por mulheres Xikrin da aldeia Pot-Krô, Terra Indígena Trincheira Bacajá (PA), recebeu menção honrosa na categoria Empreendimentos Rurais do prêmio “Saberes e Sabores 2018”, oferecido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Foram, ao todo, 65 candidaturas ao prêmio na categoria Empreendimento Rural. O primeiro lugar ficou com mulheres que trabalham com cacau de origem na Venezuela.

Menire significa “mulher” na língua Kayapó. A extração do óleo de babaçu é uma de suas atividades tradicionais.

Entre as Xikrin, o óleo é indispensável para uso cosmético e ritual, e a instalação de uma miniusina para extração do produto aumentou o rendimento da produção.

Antes, 20% da amêndoa do coco babaçu era convertido em óleo. Com a miniusina, a conversão em óleo chega a 70%, e o produto final tornou-se uma oportunidade de geração de renda. O volume de produção em 2018 foi de 500 litros. Os trabalhos na aldeia recomeçam em abril.

“As mulheres produziam tradicionalmente o óleo antes da miniusina. Hoje somos nós todas que coletamos o coco na floresta e quebramos ele para tirar a amêndoa. Duas menire – eu Kokoté e minha tia, Panhre – que com apoio de parceiros e da associação de nosso povo – a [Associação Instituto Bepotire Xikrin] IBKrin -, operamos a máquina, gerimos a miniusina e comercializamos nosso produto”, disse Kokoté Xikrin.

“Descobrimos que há um grande interesse em nosso óleo por ser um produto natural e saudável, que mantém a floresta em pé. As pessoas em geral também gostam dele por ser indígena”, afirmou.

Tanto os Xikrin como os outros povos Mêbêngokre (mais de 10.000 pessoas espalhadas pelo Brasil em cerca de dez Terras Indígenas) utilizam tradicionalmente o óleo. Mas em boa parte dos territórios mêbêngokre atuais não existe a palmeira babaçu. Assim, a produção de óleo de babaçu das menire Xikrin atende também parte da demanda de outras Terras Indígenas.

“Nossa Terra Indígena é praticamente toda coberta por floresta, o que é muito diferente do que acontece na terra dos nossos vizinhos fazendeiros, onde quase não há mais floresta em meio ao pasto para gado. A palmeira babaçu é muito abundante na floresta em nossa terra. Para produzir óleo de babaçu nós temos apenas que andar por nossa terra para colher o coco”, contou Kokoté Xikrin.

Segundo ela, produzir óleo de babaçu é uma maneira limpa de gerar renda. “Não é necessário nenhum adubo ou veneno para que tenhamos muito babaçu para o óleo. Isto é muito diferente do que acontece com a produção do óleo de soja, por exemplo, que necessita derrubar a vegetação nativa, e da aplicação de muito adubo e veneno, que polui as águas, para que haja produção”, assinalou.

Imagem em destaque: Kokoté Xikrin (à direita) e sua avó, Nhakrin Xikrin. Foto de Leonardo Halszuk, do Instituto Socioambiental (ISA)


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