A moça que salvou um passarinho quando estava prestes a embarcar no ônibus. Embarcou. E o que aconteceu, você lê agora
O CHÃO É PRECIOSO
Por Nicole Zadorestki | De Santos (SP)
Hoje o dia foi bom, ouvi uma história. E para mulheres famintas delas, quando alguém se propõe a falar, é uma felicidade. Então saí na rua, mulher feliz da vida. Me senti como o Shrek após assinar o contrato com Rumpelstichen, pulando pelas casas dos aldeões, rindo, fazendo o urro e assustando as pessoas.
Opa, mas não assim, né?
Saí com meu casaco jeans pela cidade, me locomovendo pelos ônibus como sempre, você sabe mais do que eu. Encontrei um grupo de amigos idosos, eles riam. Que fofo, tirei foto.
Dentro do ônibus, os passageiros formavam uma filinha indiana sentados. Puramente brasileiro. Fiz o quê? Tirei uma foto.
Depois de uma longuíssima conversa com a terapeuta, saí de lá e fui em direção ao ponto – ê vida de universitária – olhei ao redor, ninguém interessante que mereça ser fotografado. Decido esperar, quem espera sempre alcança, né? E não é que aconteceu?
Pois bem, meu ônibus chega, como de costume, mas gosto desse ônibus, ele tem ar condicionado. Saí correndo.
Na minha frente uma moça acenou a mão. Maldição! Ela vai pegar o lugar e eu vou ficar em pé!
Fixo meus olhos no chão.
Eu não te contei, mas tenho uma mania de olhar para o chão à procura de coisas preciosas. Hoje mesmo, achei dez reais, mas perguntei para as pessoas em volta se eram delas. A mulher do caixa se interessou, só que não poderia ser dela, pois a nota estava do lado de fora do grande balcão. Ok. O dinheiro nem era meu. Aff, ela poderia ter me dado uma coca cola pelo menos né? Ok. As coisas acontecem.
Ah! Me perdi, voltando…
Olhei para o chão e dessa vez vi uma coisa preciosa. Um pequeno passarinho encolhido naquele concreto gelado. A moça na minha frente já posicionava seus pés para ir em direção ao ônibus.
Ah não.
– NÃO PISA NÃO!!!!
Ela olha assustada tentando entender a situação.
– Um passarinho, aqui embaixo.
Ela parou tudo que estava fazendo e pouco se lixou para o ônibus. Eu subi. Ela ficou.
Da janela, observei seu desespero recolhendo o passarinho nas mãos. Será que ela vai subir no ônibus com ele???? Pois bem, ela subiu.
Enquanto passava pela catraca, deixou o celular cair e saiu empurrando ele com os pés. Aquele passarinho nunca mais cai de lugar algum – pensei. Torci para que ela sentasse ao meu lado, assim poderia te mostrar um pedaço da cena. Ela sentou.
-Tô levando para casa – diz enquanto sorri, toda minuciosamente preocupada.
-Eu tenho um passarinho em casa, uma calopsita. Vou colocá-lo para fazer companhia.
-Mas será que dá problema? – acrescento preocupada.
-Ah não sei… -ela diz com sua expressão duvidosa.
-Qual passarinho é?
-Uma rolinha – ela diz sorrindo mais que a boca.
– Vou ter que alimentar na boquinha.
-Ele é nenê?
-Sim!
-Eu já criei um e ele sobreviveu, depois que cresceu eu soltei pro mundo.
Fico feliz, você não têm noção. Me aproximo com o intuito de fotografar, para você, é claro!
-Ainda bem que você viu, eu poderia ter pisado.
-Ou deixado na chuva que está por vir…
A conversa cessou. Agora, apenas observo o momento. Ela faz carinho, e eu fotografo.
Coisas preciosas acontecem no chão. Pessoas preciosas ainda existem no mundo.
Antes de descer do ônibus, por curiosidade, inspeciono a cena final. O passarinho está envolto na toalhinha de rosto, repousando por fim aliviado. Que viagem, né?
Imagem em destaque: o passarinho salvo. Por Nicole Zadorestki
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