As lojas que marcaram época e há duas décadas fechavam as portas

Mesbla, Mappin, Brasileiras, G. Aronson, Hermes Macedo, Ultralar e Arapuã foram contemporâneas no sucesso e no fracasso. Confira o que restou

Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista) | De Curitiba (PR)

O final da década de 1990 foi marcado pelo baixar de portas de lojas que fizeram parte da vida de milhões de brasileiros. E cujas marcas até hoje estão no imaginário coletivo.

Só na virada do primeiro para o segundo semestre de 1999, portanto há exatos 20 anos, encerraram as atividades:

  • Mesbla
  • Mappin
  • Lojas Brasileiras
  • G. Aronson

Já estas duas conseguiram resistir um pouquinho mais, chegaram ao ano 2000:

  • Ultralar
  • Arapuã

Um pouco antes, em 1997, tinha sido fechada:

  • Hermes Macedo, também conhecida como HM

O que ocasionou a derrubada dessas empresas, que acumulavam décadas de vida, estavam espalhadas em várias cidades do Brasil, investiam forte em publicidade e propaganda, eram populares?

Uma série de razões internas, sem dúvida. Mas não só.

A derrocada de tantas marcas em um mesmo período não é apenas coincidência.

Ocorre que o modelo econômico que o Brasil seguia àquela altura (e que hoje está sendo retomado e de maneira mais drástica) foi responsável por criar uma conjuntura que inviabilizou a sobrevivência de muitas empresas nacionais.

Lembremos que, depois da estabilidade econômica obtida com o Plano Real, concebido no governo de Itamar Franco, colocado em prática em 1994, o Brasil não adotou mecanismos de estímulo ao mercado interno – proteção e fomento da indústria nacional, investimentos em tecnologia, geração de empregos.

Pelo contrário: de 1995 a 1998, o governo (já sob o comando de Fernando Henrique Cardoso), por razões eleitoreiras (FHC conseguiu aprovar a reeleição e queria continuar no cargo), forçou a desvalorização do dólar. No início do Plano Real, isso teve serventia – ajudar a controlar a hiperinflação. Era, porém, para ser um remédio provisório, porque os efeitos colaterais dessa desvalorização eram (como ainda são) muito cruéis para países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.

Como esses países, no qual o Brasil se inclui, não têm indústria forte e mercado interno consistente, a moeda nacional muito valorizada diante do do dólar prejudica a renda com exportações, que são fundamentais para tais países. E, por outro lado, favorece a entrada de uma enxurrada de produtos fabricados lá a fora, a valores impossíveis de serem cobertos pela indústria aqui dentro. Esta, então, quebra, e aí é um efeito cascata.

Resultado: mais desemprego, menos renda, menos consumo, menos venda, menor demanda por produção – um verdadeiro círculo vicioso.

As grandes varejistas não conseguiram manter suas estruturas.

E, de 1998 para 1999, houve um agravante: depois que passou a eleição, com FHC garantido em mais um mandato, o governo, enfim, liberou a cotação do dólar, derrubando a desvalorização que era artificial. Estourou-se, assim, uma crise econômica que estava represada.

Entre outros problemas, quem tinha dívidas em dólares (afinal, para investir, precisavam adquirir equipamentos e insumos a maioria importados) viu essas dívidas dispararem.

Para segurar a inflação, o governo subiu barbaridade a taxa básica de juros, o que encareceu o crédito (e, dessa forma, retraiu consumo e investimentos no mercado interno).

Resultado: mais desemprego e menos renda ainda. Menos consumo, menos venda, menos produção. O velho círculo vicioso.

Essas grandes redes foram caindo, uma a uma.

A Mesbla, fundada em 1912, chegou a ter 180 lojas no Brasil. Em 1997, em concordata, tinha sido adquirida pelo empresário Ricardo Mansur, dono do Mappin, contemporânea (fundada em 1913) e então grande concorrente da Mesbla).

O Mappin ainda tentou inovar. Implantou em Santos, no Shopping Miramar, um ponto eletrônico de venda, para comércio à distância, precursor às atuas lojas online, fato inédito no país à época.

Não adiantou: em 29 de julho de 1999 o Mappin encerrou suas atividades; no mês seguinte, a Mesbla fez o mesmo, gradativamente (a última loja, em Niterói, parou de funcionar em 29 de agosto de 1999).

As unidades foram ocupadas pela Renner, que era uma empresa nacional (do Rio Grande do Sul), mas que em 1999 passou a ser controlada por um grupo norte-americano.

Em 2009, a Marabraz comprou a marca Mappin; neste ano, abriu uma loja virtual com essa marca (www.mappin.com.br).

As Lojas Brasileiras, concorrente direta das Americanas, existiu por 55 anos (1944 a 1999). No auge, contou com 63 unidades, em 20 estados. Era chamada também de Lobrás. A empresa foi adquirida pela Marisa.

Mesmo período de existência teve a G. Aronson (1944-1999), que não tinha alcance nacional, no entanto era muito forte no estado de São Paulo.

A Hermes Macedo (1932-1997), originária do Paraná, alcançava “Do Rio Grande ao Grande Rio”, como dizia seu slogan, demonstrando sua presença no Sul e em parte do Sudeste do país.

A Ultralar, fundada em 1956 pela Ultragás, expandiu-se como loja de eletrodomésticos, entretanto na cidade de São Paulo abriu um hipermercado, depois comprado pelo Carrefour. Falida em 2000, teve unidades compradas pela Casas Bahia.

A Arapuã, segundo esta notícia aqui (https://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,quebrada-arapua-ainda-vaga-como-um-fantasma,48230e), entrou em concordata em 1998, e por seis anos foi diminuindo, até não resistir mais. Em 2008, migrou para o segmento de roupas com o nome de Sete Bello.

Outras marcas do varejo que marcaram época tinham desaparecido no início dos anos 1990, por razões similares – abertura desenfreada do mercado interno para os importados a preços baixos, desemprego, queda da renda. Casas Buri (1942-1992), comprada pela Ponto Frio; Jumbo-Eletro, surgida também nos anos 1940 e em 1991 adquirido pelo Grupo Pão de Açúcar; e a Sears, que era dos Estados Unidos e estava no Brasil desde 1949, e fechou as portas no começo dos anos 1990.

Imagem em destaque: a mais emblemática Mappin, na Praça Ramos de Azevedo, Centro de São Paulo. Acervo Mappin


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