É o que uma pesquisa da UFG está estimulando. Resíduos de jamelão, mangaba, cagaita, jatobá e pequi podem ser reaproveitados
Por Mariza Fernandes, do Jornal da UFG | De Goiânia (GO)
Em Goiânia, basta chegar o período de chuvas que as notícias sobre acidentes de trânsito envolvendo o mal falado jamelão começam a aparecer nos jornais. E com razão.
Durante uma chuva inesperada no início deste mês, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu) chegou a atender mais de 10 ocorrências do tipo na capital de Goiás. As principais vítimas costumam ser motociclistas. Eles acabam sofrendo quedas na pista, que fica escorregadia quando coberta de jamelões.
Na tentativa de solucionar o problema, a prefeitura de Goiânia está retirando as árvores das avenidas e promete fazer uma substituição. Mas você já parou para pensar que ao invés de serem descartadas, essas frutinhas roxas poderiam ser reaproveitadas?
Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG) avalia o aproveitamento de frutas como fontes alternativas e não convencionais de origem natural para a produção de etanol.
Além dos testes com jamelão, planta de origem indiana que se adaptou bem em várias regiões do Brasil, a pesquisa tem foco principal na produção de biocombustíveis com resíduos de frutas típicas do Cerrado, como a mangaba, a cagaita, o jatobá e até o pequi.
CONTRADIÇÕES
O coordenador da pesquisa, professor Armando García Rodríguez, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Instituto de Ciências Biológicas da UFG, explica que, atualmente, as matérias-primas mais utilizadas para produção de etanol são a cana-de-açúcar, o milho e a beterraba (principal fonte para biocombustíveis em países da Europa). “Estamos queimando comida”, advertiu Armando García, ao apresentar a pesquisa no último dia 26 de julho, durante o NÚCLEO19 – 5º Encontro Nacional de Estudantes de Biotecnologia, no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG (IPTSP).
Uma reportagem do Jornal UFG mostrou que o foco da agricultura brasileira na produção de matérias-primas como milho e cana-de-açúcar causa uma série de contradições no campo e prejudica os agricultores familiares.
Os frutos tradicionais do Cerrado, no entanto, são direcionados para a produção extrativista, pois o plantio dessas espécies é um desafio: as sementes são recalcitrantes (não sobrevivem à secagem ou ao congelamento). Em geral, frutas como a mangaba e a cagaita são utilizadas para produção de alimentos como picolés, geleias e compotas em agroindústrias.
A ideia do professor Armando García é aproveitar os resíduos dessas indústrias para produzir etanol. “É um volume de resíduos muito grande que não é aproveitado. Algumas empresas queimam os resíduos ou adicionam à ração para animais”, afirmou García.
ALTERNATIVA
Para o pesquisador da UFG, é possível usar esse material como fonte alternativa e renovável de energia, tendo em vista que diversos estudos apontam que o uso de combustíveis fósseis tende a se tornar inviável nos próximos anos.
Apesar de promissora, a pesquisa ainda não saiu do laboratório.
De acordo com o pesquisador, é difícil fazer com que essas pesquisas sejam aplicadas pelas empresas, pois os resíduos frequentemente precisam passar por tratamentos prévios que podem encarecer o processo produtivo. Até o momento, Armando García já orientou sete trabalhos de conclusão de curso e quatro estágios relacionados ao estudo.
O professor finalizou a palestra apresentando um desafio à plateia de jovens estudantes da área de Biotecnologia que vieram de várias regiões do país para participar do evento: levar a produção de biocombustíveis a partir de frutas do Cerrado, que ainda é restrita aos experimentos em laboratório, para as indústrias.
“É um problema complicado, mas é para resolver esse tipo de problema que vocês estão aqui, não é mesmo?!”, finalizou o professor.
Imagem em destaque: jamelão no pé. Por Ana Beskow/UFG
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