Em seminário voltado procuradores do Ministério Público, Nélson Rodrigues dos Santos, um dos mais entendidos no assunto, mostra a importância do sistema brasileiro.
Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista) | De Curitiba (PR)
O Sistema Único de Saúde (SUS) beneficia brasileiros e brasileiras de todas as classes sociais, de todas as faixas etárias.
E, para 75% da população, o SUS é a única opção de assistência em saúde.
Só esse fato já é suficiente para se defender o sistema, não?
Sim, mas além desse há uma série de outros razões para que o SUS seja percebido como uma conquista e patrimônio nacional que não pode ser destruído.
Quem faz a lista de motivos em defesa do SUS é um dos nomes que mais entende do assunto, o médico Nélson Rodrigues dos Santos – com décadas de experiência na saúde pública, como militante, gestor, acadêmico e consultor.
“Nelsão”, como é chamado por colegas em virtude da grandeza de sua atuação, foi o conferencista no encerramento do seminário “SUS: contextualização, cenários de crise e possibilidades de atuação do Ministério Público”, ocorrido na semana passada (24 e 25 de outubro) na sede do Ministério Público do Estado do Paraná, em Curitiba.
Em síntese, “Nelsão” apresentou o seguinte ao público presente:
- Metade da população brasileira, que antes da criação do SUS (pela Constituição de 1988) era desassistida em saúde, rapidamente passou a ser amparada pelo sistema. “Numa velocidade muito grande, essa população passou a ser atendida pelos postos ambulatoriais [do antigo Inamps]. O princípio da universalização entrou nos corações e mentes. Em uma década, estados e municípios cumpriram a universalização.”
- “Em atenção básica, o SUS se mostrou extremamente produtivo e eficiente. Várias pesquisas de diversos países, da Organização Mundial de Saúde, e outros organismos comprovavam isso”
- “Mas não se cresceu em diagnóstico e tratamento precoces, nem em média complexidade. As estatísticas sobre filas de espera são desumanas”.
- “Ainda assim há ‘ilhas’, ‘nichos’ de experiências exitosas, que [mesmo com as dificuldades dos últimos três anos] seguem referência.”
- “A maior parte dos Caps, por exemplo, estão nivelados por cima, é o que há de melhor na maior parte do mundo.”
- “O Samu, apesar de estar sofrendo com a falta de ambulâncias novas, é o melhor sistema de atendimento de urgência, usado até pelos usuários dos planos privados.”
- “Em aids, o Brasil também continua como vitrine, apesar de ameaças de retrocesso”
- “O sistema de transplante e órgãos [também é eficiente]””A rede de hemocentros [é modelo].”
- “A distribuição de medicamentos, apesar de estar sendo diminuída, é outro nicho de excelência.”
- “Os planos de imunização e vacinação são de fazer inveja para o mundo.”
- “A vigilância sanitária é outra ilha de excelência.”
Além dessa dezena de considerações, “Nelsão” sublinhou o “saber acumulado” nesses 30 anos de existência do SUS.
Trata-se de uma série de políticas públicas e inovações desenvolvidas por gestões Brasil adentro, que costumam ser expostas em seminários e congressos de saúde pública, e que mostram o quanto se avançou e o potencial de desenvolvimento a ser explorado.
“É um volume de práticas que tem de ser consideradas”, clamou.
O especialista observa ainda que os trabalhadores do SUS são verdadeiros militantes, defensores do sistema, e que essa cultura de valorização tem se transmitido ao longo do tempo. “Estamos na terceira geração [desde a criação do SUS], que herdou a militância, a tenacidade em defesa do SUS.”
Nélson Rodrigues dos Santos enfatizou, por outro lado, ser imprescindível o país aplicar bem mais do que destina hoje ao sistema de saúde pública, para que as conquistas se expandam para além das ilhas e nichos citados.
“Em 15 países com sistemas públicos de saúde consolidados – na Europa, Austrália, Japão – os recursos em saúde correspondem de 7% a 8% do PIB [Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas em um ano por um país]. No Brasil, é só 3,8%. Os investimentos per capta são de cinco a seis vezes maiores que no Brasil. Será que se naqueles 15 países os recursos destinados fossem nos níveis do Brasil, seus sistemas teriam alcançado a excelência?, é a reflexão que deixo”, comparou “Nelsão”.
Que terminou conclamando à mobilização, à luta, diante dos retrocessos em marcha de três anos para cá.
“O SUS tem esperança. Mas a sociedade tem que reagir.”
O seminário nacional sobre saúde pública foi promovido pelo Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG), por meio de sua Comissão Permanente de Defesa da Saúde (Copeds), em conjunto com o Ministério Público do Paraná, e em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Escola Nacional de Saúde Pública), do Ministério da Saúde.
Saiba mais sobre o evento na página do Ministério Público do Estado do Paraná, clicando aqui.
Imagem em destaque: Nélson Rodrigues dos Santos no seminário em Curitiba. Foto: Array/Ministério Público do Estado do Paraná
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