Fim do Nocaute e do Conversa Afiada deve servir de reflexão para a mídia independente e para lideranças e influenciadores contra-hegemônicos
Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista), mantenedor da Rede Macuco
Começamos agosto com duas baixas irrecuperáveis na trincheira pela democratização das comunicações: o encerramento das atualizações do Nocaute e o do Conversa Afiada, dois dos mais representativos expoentes do que um dia chamamos blogosfera progressista.
Que o fim, oxalá temporário, e não duradouro, do Nocaute e do Conversa Afiada sirva, ao menos, de reflexão para o campo progressista, e de correção de rumos – ao menos no que se refere à atuação dos veículos de mídia desse campo.
O enfraquecimento da blogosfera progressista decorre desses dois fatores, ao menos:
1. O cerco político e econômico das elites às forças populares, que começa lá em junho de 2013, se acentua com o lavajatismo a partir de 2014, consolida-se com o golpe de 2016, e se acentua pós “eleições” de 2018. Não é de hoje, estamos nas cordas, sufocados pelas mentiras, os discursos de ódio, a perseguição jurídica, política e econômica das elites
2. A falta de unidade – não de pensamento, que não é essa que devemos pleitear – a falta de unidade de prática, de cooperação, recorrente no espectro político à esquerda, e que se replica na blogosfera progressista
Esta carta aberta se atém ao fator 2.
Como nano ator social que somos na blogosfera progressista, a Rede Macuco – cuja origem remonta há 15 anos (linha do tempo aqui) – não raro identificamos um ambiente de competição, de disputa por protagonismo e liderança, daquele comum no mercado capitalista, mas condenável no campo em que atuamos.
Ambiente que, reitere-se, passa a se forjar justamente a partir do momento em que mais começamos a precisar de unidade, união.
A título de ilustração, comparemos a diferença de participação, engajamento, cooperação entre o recente Encontro Nacional de Blogueiros e Blogueiras Progressistas, em 2018, com o primeiro, em 2010.
Cada um, cada vez mais, remando para um lado, mirando no próprio destino, com olhos no próprio umbigo.
E não estamos a falar nem em decisões, posicionamentos, encaminhamentos mais macro, estratégicos.
A referência aqui é às práticas cotidianas, mais corriqueiras, no entanto fundamentais também, e que são reflexo dessa desarticulação e escassez de cooperativismo aqui abordadas.
Não há, em regra, intercâmbio de indicações, de conteúdos. Não há reciprocidade nas curtidas, nas retuitadas, nos compartilhamentos de postagens.
Há, na blogosfera progressista, repercussão muito maior e mais intensa do que sai na mídia hegemônica do que daquilo que sai na mídia independente.
Dentro do nosso campo, classificamos o blog a como o que atira para todos os lados, o blog b como petista, o c como cirista, o d como falso esquerdista, o e como murista, o f como psolista, o g em quem são esses, e, rótulos postos, esquecemos que, embora com pontos de vista distintos, por ora divergentes, em essência – e em muito mais que em essência, em boa parte dos aspectos – estamos na mesma trincheira.
Como nano ator social que somos na blogosfera progressista, e mesmo que fôssemos maior assim o faríamos, a Rede Macuco tem na rotina repostar, retuitar, curtir, encaminhar, indicar conteúdos de atores diversos da blogosfera progressista. Sequer uma curtida recebemos, quanto mais a recíproca cooperação que tanto se defende.
Problema que se verifica também entre lideranças, “influenciadores” do campo progressista.
Há mais compartilhamentos de conteúdos da mídia hegemônica do que da mídia independente. Não se pensa duas vezes em aceitar uma entrevista ao Pedro Bial ou a integrar a mesa redonda de uma CNN ou Globo News, mas quando o contato vem de um veículo independente, a mensagem nem sequer é lida.
Faz-se urgente um media training a essas lideranças, no sentido de despertar nelas a consciência da importância de que reverberem o que a blogosfera produz, diz, debate.
Faz-se urgente repensarmos as práticas cotidianas; elas não diminuem o tamanho, nem o peso de ninguém nessa seara em que estamos. Ao contrário, só engrandecem cada ator, e o coletivo.
Imagem em destaque: reprodução de tela das postagens dos anúncios do Nocaute e do Conversa Afiada
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