Escola Egídio Brunetto, mantida por sem terra no extremo sul baiano, é exemplo de promoção de conhecimento, trabalho e renda, respeitando a natureza
Por Fernanda Alcântara, do MST | De Prado (BA)
Em uma região de Mata Atlântica devastada pelo avanço da monocultura do eucalipto, pastos e plantações de café, famílias sem terra têm reescrito a história no Extremo Sul da Bahia.
E para criar esta nova perspectiva de vida e esperança, estas famílias experimentam, aprendem e ensinam formas de manejar e recuperar os solos e os agroecossistemas severamente danificados.
Reunindo toda esta sabedoria está a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB), centro de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região, e situada no município de Prado.
A construção da escola ocorreu em meio a uma tensão entre modelos de desenvolvimento, em que a escola se torna ferramenta pedagógica dos trabalhadores do campo que estão em um constante processo de luta pelo direito à terra e ao território, conta a educadora Dionara Ribeiro, do setor pedagógico da instituição.
“A construção da Egídio Brunetto é desafiante, justamente porque traz em sua essência os desafios da luta pelo acesso à terra, o desafio da formação política e técnica dos assentados e assentadas, e o desafio da construção de tecnologias apropriadas à agricultura camponesa”, afirma Dionara.
Outro educador, Felipe Campelo, também do setor pedagógico da escola, ressalta o importante espaço de reflexão sobre como os desafios da construção da base agroecológica.
“A Egídio Bruneto é uma escola construída a muitas mãos. Falar sobre a escola é lembrar que ela é fruto de uma luta intensa contra a expansão do eucalipto na região do Extremo Sul da Bahia. O MST, percebendo que o modelo do capital estava ocupando as terras, destruindo as árvores, ocupando o território como um todo, fez este enfrentamento que culminou com a conquista de diversos assentamentos e da escola.”
A iniciativa busca estimular nas escolas do campo uma nova forma de viver e conviver no campo e na cidade, respeitando o meio ambiente e incentivando a produção de alimentos saudáveis, para um novo equilíbrio social e ambiental.
O processo de desenvolvimento dos cursos de formação envolvem reflexões entre os setores do Movimento, a partir de análises da conjuntura e o dever de preservar o meio ambiente.
A educadora Dionara também ressalta a coletividade na hora de definir as necessidades concretas dos espaços de formação.
“Implantamos arranjos produtivos na escola que dialogam com os assentamentos. É uma forma de avançarmos na produção agroecológica e, ao mesmo tempo, realizar experimentação e fazer a formação com as famílias. Desta maneira, implantamos cursos teóricos e práticos muito baseados na metodologia de camponês a camponês e partir dos princípios da educação popular. Muitas famílias recebem a formação e multiplicam em suas áreas, além de receber um acompanhamento técnico dentro de seus lotes.”
E continua. “Outra tarefa da escola é avançar na formação técnica profissional da juventude. Por isso, em parceria com a secretaria estadual de educação, ofertamos um curso técnico em agroecologia, que também nos ajuda a desenvolver um processo de experimentação e pesquisas a partir das próprias unidades produtivas da escola e também de experiências dos assentamentos, e tem nos possibilitado um avanço no campo da formação e sistematização junto aos estudantes.”
Concluído no final de 2020 formando 43 estudantes, a especialização em Agroecologia e Educação do Campo é fruto de uma parceria do MST com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, vinculada à Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), um dos mais importantes órgãos de pesquisa e educação em ciência e saúde.
Realizado em cinco etapas, o curso aconteceu durante um ano e meio e culminou com a apresentação de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que demandava um plano de intervenção em agroecologia nas escolas do campo.
RELAÇÕES COM A NATUREZA
Atualmente, a Escola Egídio Brunetto possui papel fundamental na participação e construção de espaços voltados ao avanço da reforma agrária e da agroecologia nos assentamentos da região, e por isso seus desafios se encontram principalmente em processo de desenvolvimento do projeto político pedagógico de ensino.
“Apostamos que as novas relações do ser humano com a natureza devem ser abordados desde os primeiros anos de vida, e a escola é um espaço potente para esse trabalho”, ressalta Dionara.
Imagem em destaque: vista da Escola Egídio Brunetto. Foto de Cadu Souza/MST
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