Atleta ficou pertinho do bronze e sua atuação se manteve por 32 anos como o melhor resultado de uma mulher brasileira em Olimpíadas
Por Juliano Justo, repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional | De São Paulo (SP)
Por 32 anos, de 1964 a 1996, o melhor resultado de uma atleta brasileira em uma edição de Olimpíada foi o quarto lugar de Aída dos Santos, no salto em altura na primeira edição dos Jogos realizada em Tóquio.
Naquela ocasião, a fluminense nascida no Morro do Arroz, em Niterói, alcançou a marca de 1,74 metro (m) e ficou a apenas dois centímetros da medalha de bronze.
Essa quarta posição olímpica só veio a ser superada, na história do esporte brasileiro, pela medalha de ouro da dupla Jacqueline e Sandra Pires, no vôlei de praia nos Jogos de 1996 (Atlanta).
Faltando pouco para a cerimônia de abertura da edição 2020 dos Jogos de Tóquio, a Agência Brasil conversou na última quinta-feira, dia 22, com a ex-atleta para lembrar detalhes de uma aventura realizada em um contexto bem diferente do encontrado pela atual geração de atletas que está no outro lado do mundo representando o Brasil.
Confira os principais pontos da entrevista:
COMO FOI CONSEGUIR VAGA NA OLIMPÍADA DE 1964
Antes da Olimpíada, Aída competiu no Troféu Brasil daquela temporada, realizado em São Bernardo do Campo, em São Paulo.
E nesse evento alcançou o índice com a marca de 1,65 m. Porém, ela ainda precisou passar por mais cinco classificatórias para se garantir nos Jogos.
“A Maria da Conceição Cypriano e eu tivemos de participar de várias provas ao redor do Brasil para ver quem conseguia a melhor marca. Foi algo estranho. Antes da última prova, no complexo do Maracanã, lembro que precisei ajudar muito a minha família com algumas tarefas domésticas. Estava tão cansada que não queria mais ir aos Jogos. Foi meu técnico quem me incentivou. Saltei 1,65 m e a Cypriano, 1,60 m. Foi assim que ganhei a vaga”, diz a única mulher da delegação brasileira naquela edição dos Jogos de Tóquio.
CONFIRMAÇÃO FALTANDO MENOS DE UM MÊS
No entanto, a confirmação da vaga veio apenas em setembro, e os Jogos estavam previstos para outubro. Ou seja, o tempo para organizar a viagem era muito curto, e Aída não recebeu praticamente nenhum incentivo.
“Não tinha nem uniforme. Acabei usando um dos Jogos Ibero-americanos, dos quais tinha participado. Acabei indo com a delegação do vôlei masculino. Paramos uma semana na França, para alguns amistosos, e na sequência partimos para Tóquio. Quando vi, estava sozinha lá do outro lado do mundo. Foi muito difícil. Chorei demais. Tive vontade até de retornar ao Brasil sem competir. Não tinha material, não tinha técnico, nada mesmo”, recorda.
CORRIDA ATRÁS DE APOIO
Para treinar em Tóquio, ela precisou contar com apoio de representantes de delegações estrangeiras.
“Dentro da Vila Olímpica, tinha um local de treinos. Vi algumas atletas treinando com os técnicos. Acabei pedindo ajuda para um japonês, e ele me emprestou o material. Às vésperas da competição, um colega cubano me ajudou a conseguir os sapatos para o salto. Era um par para atletas dos 100 m rasos. Totalmente diferente do que eu precisava, mas era aquilo ou saltar com os pés descalços”.
CONTUSÃO DURANTES OS JOGOS
No dia da prova, Aída teria que alcançar 1,70 m para ir à disputa das medalhas. “No Brasil, não conseguia passar de 1,68 m. Fiquei mais de seis meses sem ultrapassar essa altura. Mas estava com tanta raiva pela falta de apoio que aquilo acabou se transformando em determinação, e eu saltei 1,70 m. Porém, acabei torcendo o pé durante as eliminatórias. Era mais uma dificuldade. Só consegui disputar a final por causa da ajuda da cubana Miguelina Cobian para enfaixar o meu pé”, afirma.
PERTINHO DO BRONZE
Na final, a brasileira saltou 1,76 m e ficou a dois centímetros da conquista da medalha de bronze. O ouro foi da romena Iolanda Balas, com 1,90 m, a australiana Michele Brown foi medalhista de prata com 1,80 m e a russa Taisiya Chenchik faturou o bronze com 1,78 m.
“Já não tinha mais condições físicas, estava muito desgastada. Além disso, eu era a única que não tinha técnico. Talvez, se tivesse alguém para me orientar, poderia ter chegado ao pódio”, lamenta a fluminense, que participou também dos Jogos de 1968 (Cidade do México).
SUPERAÇÃO
“O resumo da minha história naquela Olimpíada de Tóquio é a palavra superação. Lembro muito bem que, quando estava no aeroporto para começar a viagem, algumas pessoas falaram que eu não passaria das eliminatórias, que nunca chegaria à final. Mas eles não sabiam que eu sou movida a desafios. Fui lá e mostrei o meu talento, superando todas as adversidades. Espero que os atletas que agora estão em Tóquio possam fazer o mesmo, e que representem muito bem o Brasil”, torce Aída.
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Imagem em destaque: Aída dos Santos e a filha Valeskinha, em homenagem que a atleta recebeu no último dia 16, ao ser incluída no Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Foto: divulgação COB.
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