Aumento da vacinação e melhora nos indicadores não significam que a pandemia acabou; relaxamento pode fazer a tragédia se estender ainda mais
Da Rede Brasil Atual | De São Paulo (SP)
Por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, do Tutaméia | De Porto Alegre (RS)
O surto de covid-19 segue tendência de estabilidade no Brasil. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o cenário é de “pequenas oscilações, em todas as faixas etárias analisadas”.
A instituição pública reafirma a necessidade de cuidados como uso de máscaras e pede a revisão do fim das medidas de distanciamento.
“O Brasil como um todo apresenta sinal de estabilização na tendência de longo prazo, ou seja, em relação às últimas seis semanas, e de crescimento no curto prazo, últimas três semanas”.
“Do ponto de vista epidemiológico, a flexibilização das medidas de distanciamento social facilitam a disseminação de vírus respiratórios e, portanto, podem levar a uma retomada do crescimento no número de novos casos”, destaca o coordenador do Boletim InfoGripe, pesquisador Marcelo Gomes.
Histórico recente de contágio de vírus respiratório no Brasil. Fonte: Fiocruz
Em entrevista ao Tutaméia, o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos mais importantes do planeta – entre outros prêmios e galardões, ele acaba de receber o título de professor emérito da Universidade de Duke, na Carolina do Norte – adverte que abolir o uso de máscara é um absurdo.
“Essa discussão, de que nós podemos nos livrar das máscaras, é completamente irresponsável. Mostra uma falta de noção, falta de conhecimento do que está acontecendo no mundo.”
O cientista traz dados e aponta o desleixo como preocupante:
“Na semana passada, Brasília estava com 78% de ocupação de UTIs, as UTIs pediátricas com cem por cento, porque a variante Delta do vírustem atacado as crianças e os jovens. E estamos com jogos de futebol com público sem máscara – a gente olha pela televisão e fica horrorizado –, a gente está com aberturas totais, o prefeito do Rio de Janeiro dizendo que pode ter réveillon, que pode ter Carnaval.”
Com o relaxamento, a pandemia tende a durar ainda mais:
“A tragédia da pandemia ainda não acabou. E ela corre o risco de se estender muito mais do que poderia ou deveria. Nós ainda não estamos fora desse negócio, e ainda tenho grande receio de nós possamos enfrentar, se não uma onda como a segunda, que foi algo assim enorme, mas uma nova subida de número de casos e internações agora em outubro e novembro, até o final do ano, por causa do domínio da variante delta – em certas regiões, inclusive na cidade de São Paulo, ela já está com noventa por cento.”
Imagem em destaque: vacinação em domicílio, do SUS em Salvador. Foto: Jefferson Peixoto/Secom/Fotos Públicas
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