Txai Suruí alerta: mídia alternativa tem de incluir narrativas indígenas

Ativista, uma das debatedoras do BlogProg, cita experiências já em curso e adverte para a necessidade de recontar a história, ainda tratada sob ótica do colonizador


Por Wagner de Alcântara Aragão, para o Brasil Debate | De São Paulo (SP)

O que acontece nos territórios indígenas todos os dias não sai nos grandes veículos de comunicação. Por isso, o segmento de mídia alternativa precisa incluir narrativas dos povos originários. Mais ainda: estes povos podem ser os autores das histórias que são contadas. Há experiências nesse sentido – como o filme ‘O território’, a ser lançado em 8 de setembro – e elas devem ser potencializadas.

Mensagens como essa foram transmitidas de modo contundente pela estudante Txai Suruí, jovem liderança do povo Paiter Suruí, de Rondônia, durante o 7º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais (BlogProg), realizado em julho, em Maricá (RJ). Ela foi uma das debatedoras do painel “Civilização ou barbárie”, ao lado da jornalista Hildegard Angel e de Gilmar Mauro, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A REALIDADE DOS POVOS INDÍGENAS

“Falar de barbárie para os povos indígenas”, iniciou Txai Suruí, “é falar de realidade”, porque cotidianamente os povos originários estão submetidos a massacres, invasões, desmatamentos, sublinhou ela. Ainda, vêm sua história e a história da formação do Brasil contadas, até hoje, sob a ótica do colonizador – colonização, por sinal, que se mantém como prática, conforme advertiu a ativista.

“[A mídia alternativa] é importante não só para denunciar, mas para recontar a história. Porque até hoje a história que se conta é a de que foi ‘descobrimento’ [do Brasil]. Até hoje é isso que se diz nas escolas. Não foi. Até hoje a gente continua contando a história a partir da visão do colonizador, e não a história de como o Brasil realmente foi construído”, afirmou.

RECONTAR NOSSA HISTÓRIA

Nesse sentido, prosseguiu ela, “nosso trabalho de comunicação é também para isso: recontar nossa história, contar como de fato foi a colonização – que invadiram, mataram, estupraram, destruíram nossa floresta, tiraram nossa espiritualidade… e não é isso que ainda acontece até hoje?”, indagou à plateia no evento.

Diante disso, pontuou, “a gente [povos indígenas] tem que mudar, e a gente tem feito isso”. Txai Suruí citou o documentário ‘O território’, que ela e integrantes do povo Uru-eu-wau-wau co-produziram e filmaram. Mencionou também a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, da qual faz parte, e a Mídia Índia, como exemplos desse envolvimento dos povos originários em proporcionar novos meios de comunicação.

“A gente vem contando o que é e o que significa ser indígena; o trabalho que a gente vem fazendo. Mostrando que, mais do que continuar resistindo, estamos colocando em prática, em nossos territórios, soluções [sustentáveis] que só agora as pessoas estão escutando”, assinalou, dando inclusive um recado ao público: “É preciso valorizar mais o saber dos povos originários. Os povos indígenas, principalmente nas cidades, são invisibilizados. Não estamos só nos territórios”.

COMUNICADORES INDÍGENAS

Txai Suruí defendeu um trabalho de fortalecimento dos comunicadores indígenas, em um processo a envolver mulheres, juventude, atores envolvidos na organização e articulação dos movimentos indígenas pelo Brasil. “Não é fácil, mas a gente tem que fazer. A gente vem fazendo. A gente tem que começar, porque se não, como [essa situação] vai mudar?”.

A seguir, o trailer do documentário ‘O território’, lançado nesta segunda, 8 de agosto, e com estreia nacional prevista para 8 de setembro:


Imagem em destaque: Txai Suruí, no BlogProg. Foto de Nara Quental




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