Mapeamento em áreas de manejo sustentável no Acre e no Mato Grosso revela existirem mais de 40 milhões dessas árvores, adultas – tanto ipê amarelo como ipê roxo
Por Manuela Bergamim, da Embrapa Florestas | De Colombo (PR)
Extenso estudo, realizado em áreas florestais sob manejo sustentável nos estados do Acre e de Mato Grosso mapeou mais de 40 milhões de árvores adultas das espécies Handroanthus serratifolius (ipê amarelo) e Handroanthus impetiginosus (ipê roxo).
A ampla incidência registrada mostra que os ipês estão protegidos de extinção e ressalta a importância do manejo sustentável das florestas.
Segundo os pesquisadores envolvidos, esse total mapeado não levou em conta árvores jovens, arvoretas e banco de plântulas.
“Considerando a população, área de ocorrência, crescimento e estrutura (do passado e atual), capacidade de suporte (veja quadro) e estoque das florestas naturais sob manejo, maturidade reprodutiva, entre outros fatores, entendemos que as duas espécies não se encontram em condição vulnerável”, afirma o pesquisador Evaldo Muñoz Braz, da Embrapa Florestas (PR).
Os resultados estão apresentados na publicação “Ocorrência e crescimento de Handroanthus spp. na Amazônia, nos estados de Mato Grosso e Acre, como subsídio para a elaboração de normativas de manejo florestal e avaliação de risco de extinção”.
A obra traz dados e informações fundamentais que colaboram em recentes debates no setor florestal sobre a inserção dos ipês na lista de espécies da flora ameaçadas de extinção.
COMO FOI A PESQUISA
Durante o ano de 2020, os pesquisadores estiveram em campo em áreas de florestas nativas remanescentes, localizadas no Acre e em Mato Grosso, onde já desenvolvem outros projetos de pesquisa sobre manejo florestal sustentável, com o objetivo de levantar a atual situação de ocorrência e crescimento do ipê.
Além do trabalho de campo, a pesquisa fez também comparações da estrutura das florestas entre amostragens atuais e de registros antigos do Radam Brasil (base do conhecimento de florestas brasileiras, implementada na década de 1970), buscando levantar o número de árvores e conhecer a estrutura total da floresta.
No Acre, foram avaliados 41 mil hectares e, em Mato Grosso, 54 mil; todas as áreas submetidas a planos de manejo florestal.
AMPLA OCORRÊNCIA DOS IPÊS
Nelas, foram realizados o mapeamento da ocorrência das espécies, a identificação, a descrição das árvores e a avaliação do crescimento de seus diâmetros.
“Quando extrapolamos a representação de ipê encontrada na pesquisa para as áreas disponíveis para manejo nesses estados, é possível assegurar sua ampla ocorrência”, afirma Braz.
Somente no Acre, dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) de 2020 apontam 8,8 milhões de hectares de áreas passíveis de manejo dentro dos 12,5 milhões de hectares (ha) de florestas nativas.
Isso sem contar com o que está protegido em 3,5 milhões de ha em reservas indígenas, Unidades de Conservação de Proteção Integral, e também excluindo as áreas de preservação permanente.
Já em Mato Grosso, dados de 2019 registram 17,6 milhões de ha em áreas passíveis de manejo dos 25 milhões de ha de Floresta Amazônica no Estado e com áreas protegidas em mais 8 milhões de ha em reservas indígenas e Unidades de Conservação de Proteção Integral.
O ipê é uma espécie que figura entre as principais fontes de madeira nobre, um produto muito valorizado no exterior – mercado com exigência crescente de origem certificada e autorizada por órgãos ambientais.
No Brasil, dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) indicam que a cadeia madeireira do ipê movimenta cerca de R$ 70 milhões por ano, sendo um dos principais produtos da economia de estados como Mato Grosso, Acre e Rondônia.
Uma eventual inclusão do ipê na lista de espécies vulneráveis poderia ocasionar receio aos compradores internacionais e, como consequência, a suspensão de compra dessa madeira e de outras espécies que estejam em situação semelhante.
“Esse trabalho veio em boa hora para elucidar essa questão, uma vez que, quando a espécie é colocada na lista de espécies ameaçadas, ela não é mais comercializada no mercado de exportação. Isso seria impactante para muitos municípios que atuam dentro da legislação e de critérios técnicos, têm a madeira como principal produto e dependem deste tipo de atividade, pois estabeleceram cadeias de produção, transformação, indústria e exploração especializadas, além de enorme geração de empregos”, explica o chefe-geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza.
DESMATAMENTO
As discussões sobre a inserção do ipê na lista de espécies da flora ameaçadas de extinção se baseiam na confusão entre desmatamentos, que promovem o corte total das florestas, com o manejo florestal.
Segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD) 2021, do MapBiomas, 98% das áreas desmatadas são decorrentes de atividades ligadas à agricultura ou à pecuária.
Para esses fins, toda a floresta é retirada, sendo que, muitas vezes, a queimada precede o desmatamento.
MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL
Já sob manejo florestal sustentável, a exploração do ipê, e de outras espécies, para uso da madeira ocorre de maneira planejada, segundo critérios técnicos, e tem gerado renda e conservação da espécie.
Segundo o Ibama, 98% da madeira de ipê explorada é exportada e sua origem advém de madeireiras legalizadas, que utilizam madeira vindas de planos de manejo florestal, com áreas obrigatoriamente 100% amostradas e fiscalizadas.
Para executar o manejo florestal sustentável, é necessário realizar e registrar junto a órgãos fiscalizadores o planejamento silvicultura de manejo e corte, além de satisfazer outras exigências que garantem a permanência da floresta.
Imagem em destaque: madeira originada do ipê é considerada nobre, por isso espécie é cobiçada no mercado. Foto: divulgação Embrapa Florestas
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