Pesquisa desenvolvida na Unesp em Ilha Solteira trouxe resultados premiados por Associação de Engenheiros da Sabesp; 210 famílias foram beneficiadas
Por Isabella Siqueira, do Jornal da Unesp | De Ilha Solteira (SP)
Três em cada quatro residências de áreas rurais no Brasil, entre as quais aquelas inseridas em comunidades isoladas, dispõem de condições precárias de saneamento básico, destinando o esgoto domiciliar para cursos d’água ou para sumidouros e fossas improvisadas ou rudimentares.
Nesse cenário, uma nova metodologia, estudada por uma pesquisadora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e aplicada em um assentamento rural no município de Ilha Solteira, abriu caminho para a melhoria da qualidade de vida de 210 famílias e demonstrou aos assentados a viabilidade de soluções eficientes e de baixo custo para o tratamento de água e esgoto.
Como parte de sua pesquisa de mestrado, conduzida sob orientação dos docentes Liliane Lazzari Albertin e Maurício Augusto Leite, ambos da Faculdade de Engenharia do câmpus de Ilha Solteira (Feis), a engenheira Letícia Beatriz de Lima implementou e analisou sistemas de tratamento de água e de esgoto no assentamento rural “Estrela da Ilha”.
CONCLUSÃO DA PESQUISA
A pesquisa, que resultou na dissertação de mestrado “Saneamento em comunidades isoladas: implementação e análise de sistemas alternativos em um assentamento rural”, concluiu que os sistemas estudados “são economicamente acessíveis e apresentam boa eficiência de tratamento” para aplicação em comunidades isoladas Brasil afora, tais como aldeias indígenas e quilombolas.
Após a pesquisa, Letícia Beatriz de Lima, que é graduada em Engenharia Civil pela Unesp em Ilha Solteira, obteve o título de mestra em Recursos Hídricos e Tecnologias Ambientais no âmbito do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Engenharia Civil da Feis-Unesp.
PRÊMIO
No mês passado, seu trabalho foi premiado com o primeiro lugar no Prêmio Jovem Profissional de 2022, promovido pela Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESabesp) com o objetivo de destacar boas iniciativas voltadas ao universo dos recursos hídricos.
“Implementados em maior escala, os sistemas (de baixo custo em comunidades isoladas) podem ajudar na busca da universalização do saneamento no Brasil”, ressalta Letícia de Lima, hoje doutoranda em Engenharia Hidráulica e Saneamento na Escola de Engenharia do câmpus de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).
SISTEMAS DE FÁCIL MANUTENÇÃO
O trabalho de campo no assentamento rural de Ilha Solteira aliou um diagnóstico da situação local à implementação de soluções de baixo custo já estudadas anteriormente, em trabalhos desenvolvidos pela Embrapa [empresa pública de assistência agropecuária], por exemplo.
No início do mestrado, a pesquisadora da Unesp aplicou um questionário para aferir a vulnerabilidade socioeconômica das 210 famílias assentadas e a forma como os moradores coletavam a água e destinavam o esgoto.
Um formulário com questões sobre saúde, renda, abastecimento de água e esgotamento sanitário foi submetido a cerca de 20% dos habitantes da comunidade e 73,8% dos entrevistados relataram o aparecimento de ratos e baratas no domicílio, um indicativo das condições precárias presentes.
ESCOLHA DOS LOCAIS PRIORITÁRIOS
As entrevistas ajudaram na escolha dos locais prioritários para montar a estrutura física dos sistemas de tratamento de água e de esgoto a serem testados no assentamento.
Para o tratamento de água, por exemplo, a pesquisadora deu prioridade a lotes que não utilizavam poços rasos, mais suscetíveis a contaminação do que poços artesianos, mais profundos e protegidos.
MENOR CUSTO PARA O MORADOR
A implementação dos sistemas alternativos foi norteada, sobretudo, por escolhas de sistemas de tratamento de água e de esgoto que balanceavam eficiência e o menor custo possível para o morador.
A intenção era implementar tecnologias que fossem fáceis de construir e fazer a manutenção, de maneira que as ações desenvolvidas durante a pesquisa pudessem ser absorvidas e o conhecimento gerado, replicado pelos moradores no futuro.
COMO FUNCIONA A METODOLOGIA, E MATERIAIS
Após a aplicação do questionário, foram implementados e analisados dois sistemas de tratamento de água, o SODIS e o clorador, e dois sistemas de tratamento de esgoto, a fossa biodigestora e o SAC.
Cada sistema foi instalado em um lote diferente do assentamento rural.
Construído com uma garrafa PET e uma telha metálica, o SODIS foi o sistema considerado mais eficiente no tratamento de água, cuja desinfecção é feita com ajuda da radiação solar.
A radiação infravermelha esquenta e faz a pasteurização da água, enquanto a radiação ultravioleta inativa os microrganismos, afetando seu DNA e fazendo a desinfecção.
PVC E FILTRO DE CARVÃO
O sistema clorador é uma tecnologia feita com tubos de PVC e um filtro de carvão.
Nele, a desinfecção da água do poço é feita com hipoclorito de cálcio, um desinfetante que inativa os microrganismos da água. Acoplado no sistema, um filtro de carvão ativado remove a matéria orgânica da água e evita a formação de produtos prejudiciais à saúde.
PROCESSOS BIOLÓGICOS
A fossa biodigestora é um tratamento do esgoto baseado em processos biológicos. A manutenção é realizada com esterco bovino, e o fato de que havia criação de gado no lote foi um dos critérios avaliados para sua seleção para o experimento implementação, diz Lima.
Na entrada do sistema, uma vez ao mês, o morador adiciona uma mistura de esterco e água.
O esterco contém microrganismos que ajudam no processo de decomposição da matéria orgânica do esgoto.
O sistema resulta em um líquido livre de matéria orgânica e rico em nitrogênio e fósforo, um biofertilizante.
JARDIM FILTRANTE
O SAC (Sistema Alagado Construído), que apresentou melhor custo-benefício, é também chamado de jardim filtrante: uma vala escavada preenchida com meio filtrante – no caso, pedra portuguesa, brita e taboa, uma planta aquática.
Ao entrar no sistema, o esgoto passa por uma caixa de decantação, que faz a retirada dos sólidos, e depois por uma caixa de gordura, evitando entupimento.
A remoção da matéria orgânica do esgoto é feita pelos microrganismos aderidos nas raízes das plantas, que complementam esse tratamento removendo nutrientes como nitrogênio e fósforo, incorporando-os em sua biomassa, explica a pesquisadora.
SOBRE O FINANCIAMENTO DA PESQUISA
Além de uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a pesquisadora contou com recursos da Fundação de ensino, pesquisa e extensão de Ilha Solteira (Fepisa) e ajuda da Prefeitura Municipal de Ilha Solteira.
Por sua vez, o ProfÁgua, programa de pós-graduação em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos e iniciativa conjunta da ANA [Agência Nacional de Águas] com a Capes, financiou a implantação física da dissertação com recursos para compra de materiais para construção e manutenção dos sistemas.
Imagem em destaque: pesquisadores definiram com os moradores os locais prioritários. Foto: divulgação Jornal da Unesp
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