Projeto da Ufal com a Codevasf vai recuperar Canal de São Brás, que funcionará como um berçário de cerca de 6 milhões de peixes nativos por ano
Por Rose Ferreira, jornalista da Ufal | De São Brás (AL)
A pesca artesanal é uma das atividades econômicas mais importantes na região do Baixo São Francisco, mas tem sido duramente comprometida em decorrência da construção de barragens e hidrelétricas e da diminuição da qualidade do ambiente aquático, em virtude da poluição, da falta de saneamento e da variação das vazões no rio.
O desaparecimento das lagoas marginais, que funcionavam como “braços” do rio e refúgios para peixes, também impactou a ictiofauna, ou seja, o conjunto das espécies de peixes que existem naquela região biogeográfica, propiciando o aumento desordenado de espécies predadoras e sem valor econômico, enquanto peixes nativos estão em processo de extinção ou já extintos.
Agora, um projeto da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) prevê a recuperação de um canal de quatro quilômetros de extensão no município de São Brás.
Na prática, o canal atua como uma lagoa, no entanto só se conecta com o rio em vazões mais altas, ficando sem água e sem função ecológica na maior parte do tempo.
A ideia é restabelecer essa conexão, afirma o pesquisador em Ciências Aquáticas e professor da Ufal, Emerson Soares.
“As lagoas eram espaços de convivência fundamentais, porque quando o rio enchia a calha principal e se conectava com essas lagoas, os peixes migravam com fins reprodutivos para as áreas de confluência e ali realizavam a reprodução”, recorda-se.
COMO É O PROJETO
O projeto prevê o desassoreamento do canal e o reflorestamento das áreas marginais.
O canal de São Brás contará com um sistema de comportas, que vai permitir que a água permaneça lá, mesmo quando a vazão diminuir.
O ambiente será isento de contaminantes, não terá predadores e vai ser uma área reflorestada, monitorada e cuidada, recebendo, anualmente, cerca de seis milhões de juvenis, de sete espécies nativas.
ETAPAS
O projeto do canal de São Brás será realizado em etapas e vai proporcionar que as espécies nativas cheguem ao rio já desenvolvidas, diminuindo assim a taxa de mortalidade e favorecendo o equilíbrio do ecossistema.
“Atualmente, o ambiente está dominado pela pirambeba e pelo tucunaré, que são espécies rústicas e que devoram tudo. Com outros peixes nativos e predadores, como o pacamã, haverá mais competição e essas espécies não vão mais sobressair”, explica Soares.
Esta será a primeira unidade demonstrativa.
A pretensão é que o projeto seja ampliado para outras regiões do próprio Baixo São Francisco e sirva de modelo para o Brasil, por ser replicável e permitir a agregação de outras variáveis.
Nesta fase inicial, estão sendo realizados os estudos básicos, que devem ser concluídos ainda em 2023, de acordo com o engenheiro Rodrigo Marques, gerente de estudos e projetos da Codevasf do Distrito Federal.
“A gente vai fazer os estudos hidrológicos, a batimetria, a topografia e os estudos de sondagem geotécnica. Com isso, a gente já consegue definir efetivamente como vai ser esse projeto no futuro”, adianta Marques.
A previsão é que a construção da estrutura seja concluída em 2024 e que, em 2025, comece a etapa seguinte, que é a do repovoamento dos estoques nativos e monitoramento.
Além da Ufal e da Codevasf, o projeto envolve ainda o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a Prefeitura de São Brás, o Ministério Público Federal (MPF) e órgãos do governo federal.
Imagem em destaque: vista área da lagoa do Canal de São Brás. Foto: divulgação Ufal
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Um comentário sobre "Um trabalho para garantir água e vidas na Bacia do São Francisco"