Com participação direta dos Estados Unidos, bombardeios ao La Moneda levaram à queda de Salvador Allende e à instauração de ditadura; assista aqui ao documentário de Patricio Guzmán e a outros vídeos
Com informações de:
Hora do Povo | De São Paulo (SP)
Brasil de Fato | De São Paulo (SP)
Fórum 21 | De São Paulo (SP)
Há exatos 50 anos, em 11 de setembro de 1973, com forte apoio dos Estados Unidos, as Forças Armadas do Chile bombardearam o Palácio de La Moneda, sede do governo central.
O atentado resultou na destituição do presidente socialista Salvador Allende, eleito pelo voto popular em 1970.
Foram quase três horas de bombardeios.
Negando-se à rendição, porém sem condições para contra-ataque, Allende tirou a própria vida.
O DOCUMENTÁRIO QUE REGISTROU ESSA HISTÓRIA
Considerado um clássico do cinema de exílio e peça-chave em qualquer filmografia sobre os golpes na América Latina, “A Batalha do Chile”, de Patricio Guzmán, é uma obra-prima de cinco horas de duração, dividida em três partes, que traz os antecedentes do golpe no Chile e a derrubada do governo socialista de Salvador Allende.
O documentário levou seis anos para ser finalizado.
Com o golpe militar, o cineasta chileno foi obrigado a se exilar em Cuba, onde terminou a primeira parte “A Insurreição da Burguesia”, que começa em março de 1973, já com Allende na presidência, em meio às eleições parlamentares do Congresso.
Na segunda parte, “O Golpe de Estado”, Guzmán traz os episódios que levaram à derrubada do governo, eleito democraticamente em 1970, até o bombardeio do La Moneda.
Na última parte, “O Poder Popular”, temos um pequeno vislumbre da organização dos trabalhadores sob o governo Allende e de sua luta contra a oposição, em 1972/1973.
Composto por imagens de época, por exemplo, cenas da greve dos caminhoneiros no Chile, financiada pela CIA, ou do comício histórico de Allende, que reuniu 800 mil pessoas em Santiago, o documentário acumula premiações desde que venceu o Grand Prix, em 1975 e 1976, no Festival Internacional de Cinema de Grenoble.
É passagem obrigatória para especialistas, militantes e para todos os interessados na história do Chile e da América Latina.
50 ANOS DEPOIS, COMPROMISSO PELA DEMOCRACIA
Às vésperas dos 50 anos do atentado de 11 de setembro 1973, cinco dos seis presidentes do país após o retorno à normalidade constitucional (Patricio Aylwin, faleceu em 2016), assinaram a carta “Compromisso: Pela Democracia, sempre”.
Apesar das divergências, o atual presidente Gabriel Boric e os quatro ex-mandatários vivos [Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994-2000), Ricardo Lagos (2000-2006), Michelle Bachelet (2006-2010 y 2014-2018), e Sebastián Piñera (2010-2014 y 2018-2022)] lançaram um manifesto na quinta-feira, 7 de setembro de 2023, para fazer uma reflexão sobre o cinquentenário do golpe que pôs fim ao governo socialista de Salvador Allende.
No documento, as lideranças assinalaram que “nosso país gozou durante mais de 140 anos, quase sem interrupção, de uma democracia em continua evolução, de uma ordem constitucional estável e também de respeitáveis e sólidas instituições republicanas que eram objeto de admiração e prestígio no mundo inteiro”.
Boric, Piñera, Bachelet, Lagos e Frei apontaram que, para além de suas “legítimas diferenças”, é preciso sempre estar o compromisso com a democracia, particularmente quando se passaram 50 anos de seu “violento rompimento”, algo que “custou a vida, a dignidade e a liberdade de tantas pessoas, chilenas e de outros países”.
Além disso, o atual presidente e as antigas autoridades afirmaram que vão trabalhar unidos para “fazer da defesa e da promoção dos direitos humanos um valor partilhado por toda a nossa comunidade política e social, sem colocar qualquer ideologia à frente do seu respeito incondicional”.
Concordaram também em “fortalecer os espaços de colaboração entre os Estados através de um multilateralismo maduro, que respeite as diferenças, que estabeleça e prossiga os objetivos comuns necessários para o desenvolvimento sustentável das nossas sociedades”.
Mesmo convidada a se somar ao “compromisso” e a participar da cerimônia oficial de 11 de setembro, a oposição de direita alegou um “ambiente hostil” e recusou o convite.
São setores que mantém o discurso negacionista em relação à ditadura pinochetista que, sob o comando de militares dos Estados Unidos, assassinou ou desapareceu com milhares de chilenos, além de torturar e mandar para o exílio dezenas de milhares.
O LEGADO DE SALVADOR ALLENDE
O governo de Salvador Allende, embora curto, foi revolucionário e ainda hoje está presente na sociedade chilena, segundo os especialistas.
É o que afirma o sociólogo chileno Alexis Cortes.
“A maior parte dos chilenos”, explica ele “sequer tinha nascido em 1973. Mas uma grande parte da população ainda reivindicou o legado do Allende para o bicentenário da República (2010), quando ele foi eleito o chileno mais importante do país”.
O analista acrescenta: “A figura dele continua atraindo a juventude e aparecendo nas grandes manifestações populares, como em 2011 e 2019. A figura do Allende é inseparável da esquerda chilena, especialmente pela forma como conseguiu conciliar socialismo com democracia. Esse elemento com certeza está no DNA da esquerda e se expressa no próprio projeto político que o Boric encabeça hoje”.
Imagem em destaque: cena de “A Batalha do Chile”, registrando o ataque ao Palácio La Moneda
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