Ministério Público denuncia cinco agentes da ditadura por morte de Marighella

Execução ocorreu em 4 de novembro de 1969; à época, foi apresentada falsa versão de que o guerrilheiro foi morto em troca de tiros


Por Daniel Mello, repórter da Agência Brasil | De São Paulo (SP)

O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu denúncia contra cinco pessoas por participação na execução de Carlos Marighella.

O líder da Ação Libertadora Nacional (ANL) foi morto em uma operação policial em 4 novembro de 1969, na região dos Jardins, na zona oeste da capital paulista.

O assassinato do guerrilheiro foi comandado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, notório agente da repressão da ditadura militar, com participação em diversas execuções e sessões de torturas.

Foram denunciados os agentes da repressão Amador Navarro Parra, Djalma Oliveira da Silva, Luiz Antônio Mariano e Walter Francisco, que faziam parte das equipes policiais que participaram da operação para eliminar Marighella.

A procuradoria ressalva que a ação envolveu diversos agentes identificados, mas que a maior parte já está morta, assim como o próprio delegado Fleury.

Outro denunciado é o legista Harry Shiabata.

Segundo o MPF, o médico, em seu laudo, ocultou as informações que indicavam que Marighella foi executado.

À época, os policiais apresentaram uma falsa versão de que o guerrilheiro foi morto em uma troca de tiros.

Porém, em um dos disparos, há a marca característica de que o cano da arma estava praticamente encostado ao corpo de Marighella.

Como ele estava desarmado, o MPF destaca que Marighella poderia ter sido imobilizado e preso.

“O que se verifica é que, desde o início, a intenção da repressão era matar Marighella, e não o prender com vida”, afirma o autor da denúncia, o procurador Andrey Borges de Mendonça.

PERSEGUIÇÃO SISTEMÁTICA

O procurador sustenta que a morte aconteceu em um contexto de perseguição sistemática do Estado brasileiro contra a população civil, configurando crime contra a humanidade, sem possibilidade de anistia ou prescrição.

O MPF lembra ainda que o Brasil já foi condenado por duas vezes pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pelos crimes cometidos pelo aparato de repressão entre 1964 e 1985, período da ditadura militar.

Por isso, o país deve investigar e responsabilizar os envolvidos em assassinatos, torturas e desaparecimentos forçados no período.


Imagem em destaque: Carlos Marighella, foto do acervo Aperj, de domínio público




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