Técnica usa imaginação e robótica para ajudar pacientes de AVC

É uma neurorreabilitação; proposta que vem sendo desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); confira descrição da solução e benefícios


Por Ghenis Carlos, da Ufes | De Vitória (ES)

Pesquisadores do Laboratório de Robótica e Tecnologia Assistiva (LRTA) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) desenvolveram uma técnica que usa a imaginação e dispositivos robóticos para ajudar pacientes de acidente vascular cerebral (AVC) a recuperar seus movimentos.

O estudo utiliza sensores eletrônicos que, acoplados à cabeça do paciente, coletam sinais cerebrais gerados pelo ato de imaginar determinado movimento (eletroencefalograma).

Os sinais captados induzem o movimento aos membros afetados pelo AVC por meio de um suporte robótico (exoesqueleto).

Ao repetir muitas vezes essa atividade de imaginar o movimento e ter sua reprodução através do exoesqueleto, o cérebro então consegue encontrar caminhos alternativos que façam esse membro voltar a se mover.

O professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Biotecnologia da Ufes e orientador da pesquisa, Teodiano Filho, explica que em geral o AVC danifica uma área do cérebro responsável por funções motoras.

ESTÍMULOS VISUAIS

A ideia consiste em estimular o cérebro a buscar outra área cerebral para voltar a controlar os movimentos.

Para estimular a imaginação, a pesquisa conta com estímulos visuais proporcionados por um sistema de realidade virtual 2D. A tal modelo de tratamento se atribui o nome de neurorreabilitação.

“O diferencial da terapia é o uso da imaginação do movimento para recuperá-lo”, assinala o pesquisador.

Ele detalha: “Antes de um movimento ser executado, a mente humana o imagina. No caso das pessoas que sofreram AVC, essa imaginação ocorre normalmente, mas o membro é incapaz de realizar o comando. O que a gente faz para prender a atenção da pessoa de forma muito efetiva é, por exemplo, exibir na tela do computador alguém pegando um copo e bebendo água”.

MOVIMENTOS COMPLEXOS

Outra inovação é o trabalho com movimentos complexos visando a um alto grau de melhora dos pacientes.

Esses movimentos são justamente aqueles presentes na vida diária, como o ato de se alimentar.

Ao explorar a imaginação desses movimentos mais complexos, observou-se melhora ainda mais rápida no processo de reabilitação.

O estudante e pesquisador Cristian Mendez, orientado pelo professor Bastos, argumenta: “Na literatura já há muitos estudos sobre a imagética motora simples, o movimento da mão simples, mas com esses movimentos não se exige tanto. Então, na pesquisa a pessoa tem que imaginar alcançar um copo com a mão, agarrá-lo e levá-lo até a boca, simulando que bebe alguma coisa e depois retornar o copo e a mão para as posições iniciais”, declara

METODOLOGIA E RESULTADOS

Bastos pondera que a técnica de eletroencefalografia (EEG) com eletrodos para captar sinais elétricos do cérebro já é conhecida e usada pelos neurologistas para diagnosticar a epilepsia, por exemplo.

Mas frisa que o diferencial da pesquisa é o uso do EEG para identificar a imaginação motora, sendo que o grupo de pesquisa obteve uma taxa de acerto na detecção desses sinais da ordem de 97%.

Esse resultado promove as condições necessárias para o funcionamento da neuroplasticidade, capacidade do sistema nervoso central de se adaptar às novas circunstâncias.

Ainda utilizando os sinais cerebrais provindos da imaginação, o professor atua em outra pesquisa voltada à neurorreabilitação do movimento dos membros inferiores.

APLICAÇÃO DE BOTOX NO MEMBRO AFETADO

Ele explica que, em certos casos, há até a aplicação de toxina botulínica (botox) no membro afetado, pois, devido ao AVC crônico, o membro acaba ficando rígido, não permitindo que o exoesqueleto realize o movimento induzido.

“A aplicação do botox então diminui a rigidez muscular (espasticidade), relaxando os músculos, e a pessoa consegue, por exemplo, abrir uma mão ou mover uma perna com a ajuda robótica (exoesqueleto)”, descreve.

O professor acrescenta: “São resultados muito significativos, porque os pacientes pós-AVC, ao serem levados ao Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes), em Vila Velha, na fase aguda, levam de dois a três meses para demonstrar alguma melhora. Com nossos pacientes, esse tempo foi reduzido para duas a três semanas”.

Dados da Federação Mundial do AVC indicam que 13,7 milhões de pessoas sofrem esse tipo de acidente a cada ano.

As sequelas que permanecem podem alterar o quadro clínico para um AVC crônico.


Imagem em destaque: sensores eletrônicos do Laboratório de Robótica e Tecnologia Assistiva. Divulgação Ufes




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