“Pirenópolis, o Divino e as máscaras” já teve apresentação na própria cidade goiana; objetivo é incluir também na programação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Especialista explica detalhes da recuperação do filme
Por Wagner de Alcântara Aragão | De Curitiba (PR)
“Pirenópolis, o Divino e as máscaras”, filmado em 1968 e lançado em 1969, é tido como o primeiro registro cinematográfico de uma das mais tradicionais festas populares do Brasil, a Festa do Espírito Santo de Pirenópolis, em Goiás (a 120 quilômetros de Goiânia e a 150 de Brasília).
Não se tinha, porém, notícia nem de seu original nem de cópias.
Até que um trabalho de restauro e preservação, iniciado em 2023 e concluído no primeiro semestre de 2024, conseguiu não só resgatar essa joia rara do cinema brasileiro, como colocar à disposição do público.
E a versão digitalizada desse documentário em curta-metragem começa a ser exibida.
Na última semana, foi apresentada no 2º Festival Internacional de Cinema, Educação e Preservação (EducAção), realizado em Curitiba e região metropolitana.
Além da exibição, uma oficina com o arquivista Mauro Domingues, responsável pelo projeto de restauro, integrou a programação do EducAção.
Domingues mostrou ao público detalhes de todo o processo de recuperação e finalização da versão digitalizada.
No último sábado, dia 28, o curta-metragem foi exibido ao povo de Pirenópolis, em sessão livre e gratuita na Comunidade Educacional de Pirenópolis.
Em junho, “Pirenópolis, o Divino e as máscaras” teve sessão na CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.
A ideia agora, conforme antecipou o arquivista Mauro Domingues, é que o filme esteja na programação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, marcado para os dias 30 de novembro a 7 de dezembro, na capital federal.
OBRA DE LYONEL LUCINI, DO INC E DA UNB
“Pirenópolis, o Divino e as máscaras” é de autoria do cineasta Lyonel Lucini (1939-2005).
É uma co-produção do então Instituto Nacional de Cinema e da Universidade de Brasília (UnB), onde Lucini era professor, até ser cassado pela ditadura depois do AI-5, em 1969.
A filha do cineasta, Júlia Lucini, vem conduzindo um trabalho de preservação e difusão da memória e do acervo de Lyonel, argentino que se radicara no Brasil.
O arquivista Mauro Domingues contou, na oficina no EducAção, da parceira com Júlia no processo de restauro e digitalização de “Pirenópolis, o Divino e as máscaras”.
PASSOS DA RESTAURAÇÃO
Também explicou passos do trabalho – desde a providência inicial, a de buscar em acervos como da Cinemateca Brasileira, Arquivo Nacional, Cinemateca do Museu de Arte Moderna, entre outros, até a finalização da versão digital da obra.
Sempre com a preocupação de garantir qualidade técnica e estética, mantendo as características artísticas da obra original.
“O grande risco de trabalhos como esse [de restauro] é se fazer uma outra obra, que não a do autor”, comentou.
ORIGINAIS DO ROTEIRO
Essa tarefa foi facilitada pelo fato de Lyonel Lucini ter deixado documentos com apontamentos de detalhes da obra concebida.
Por exemplo, no roteiro estavam anotações que indicavam concepções de algumas cenas – como sequências de cena em preto e branco.
A cópia que foi escaneada continha alguns rasgos e estava com a colorização bem desgastada. Por causa dos apontamentos deixados pelo cineasta, foi possível fazer montagem e de tratamento de cor que observasse as intenções do autor.
O REENCONTRO COM O FOTÓGRAFO LEONARDO BARTUCCI
Outra “descoberta” do trabalho foi o reencontro com o fotógrafo do filme, Leonardo Bartucci. Esse contato só foi possível na reta final do processo, quando a versão digitalizada já estava pronta.
“Bartucci está com 92 anos, lúcido. Estivemos com ele e mostramos a obra restaurada, com muito medo de que ele não gostasse por termos feito algo diferente do que era a ideia original. Mas não – ele aprovou, disse que o filme feito era exatamente aquele, e isso nos tranquilizou”, revelou o arquivista aos participantes da oficina.
Para acompanhar a sequência da difusão de “Pirenópolis, o Divino e as máscaras”, bem como de outras obras de Lyonel Lucini, acesse @acervolyonel.
Imagem em destaque: cena de “Pirenópolis, o Divino e as máscaras”
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