No “pensar ecologia sobre o asfalto”, arquiteta e urbanista Sâmyla Blois e bióloga Uýra Sodoma defendem olhar voltado à diversidade e aos saberes comunitários, no lugar das superadas fórmulas para enfrentar problemas ambientais
Por Wagner de Alcântara Aragão, @waasantista | De Belém (PA)
Belém está em contagem regressiva para ser a capital do planeta, em novembro de 2025, quando vai sediar a COP 30 – a 30ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas.
A um ano do evento estivemos na cidade, e vimos, além das grandes obras de infraestrutura, várias iniciativas de discussão e preparação.
Entre elas, ações que buscam garantir a democratização do legado prometido.
Ainda, que os investimentos rompam com modelos superados, porque excludentes, e passem a privilegiar a parcela da sociedade mais afetada pelas emergências ambientais.
A roda de conversa “Como pensar ecologia sobre os asfalto” foi uma dessas iniciativas a que presenciamos.
Com a arquiteta e urbanista Sâmyla Blois, e a bióloga e mestre em Ecologia Uýra Sodoma, a atividade integrou o “¡Pulsa! Movimento de Arte Insurgente”.
Foi realizada no começo da tarde de 10 de novembro, um domingo, no Centro Cultural Bienal das Amazônias (CCBA). O “¡Pulsa!”, por sua vez, ocorreu de 9 a 17 do mesmo mês, no CCBA e em diversos outros espaços culturais de Belém.
As debatedoras alertaram para a necessidade de se olhar para a inclusão, a diversidade e para os saberes originários e das comunidades locais.
Como referência para esse caminho, Sâmyla Blois citou o projeto “Guardiãs dos rios: histórias das margens”, do Laboratório da Cidade (ver aqui), do qual ela foi uma das participantes.
Por meio do projeto, o Rio São Joaquim, um dos mais importantes da bacia hidrográfica da área urbana de Belém, que era canalizado, foi reconfigurado – tendo sua margem verde reconstituída pela própria comunidade. No lugar de um problema para o território que corta, o rio voltou a ser protagonista.
“Estamos vendo obras de drenagem e saneamento [como parte dos investimentos para a COP 30] que ainda repetem a canalização, quando é possível, pela experiência do ‘Guardiãs’, pensar outras soluções”, propõe a urbanista.
Outra ação que conhecemos em Belém, já noticiada aqui na Rede Macuco, e que busca garantir na COP 30 lugar de fala – e de decisão – às comunidades da Amazônia, é a Revista Cabanos.
“Belém já respira os impactos da COP 30. Nas ruas, o frenesi das obras, como a revitalização da Doca e a construção do Parque da Cidade, transforma a paisagem da capital. No entanto, um debate persiste: para quem realmente são essas melhorias? E quem está sendo deixado de fora dessa grande transformação?”, indaga reportagem da publicação, uma iniciativa de estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A COP 30 em Belém será de 10 a 21 de novembro de 2025. Pelo menos R$ 5 bilhões estão sendo investidos em obras de infraestrutura urbana (sistema viário, instalações), de meio ambiente (saneamento, drenagem, parques lineares) e cultura e lazer. Representantes de 190 países são esperados para o evento.
Para quem será a COP? Para o povo, por soluções que vêm – e vão ao encontro – do povo.
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