Evento nesta quinta, dia 10, às 19h, presta tributo ao médico sanitarista, líder de políticas públicas inovadoras na prevenção, combate e tratamento da aids, e na humanização da saúde mental, dentre outros legados
Com informações do Instituto Telma de Souza | De Santos (SP)
Lideranças comunitárias e políticas, profissionais de saúde e de outras áreas da gestão pública, e movimentos sociais de Santos promovem nesta quinta-feira, 10 de abril, um evento em homenagem póstuma ao médico sanitarista David Capistrano da Costa Filho.
Em 2025 (em 10 de novembro) completam-se 25 anos de sua morte.
- Intitulado “25 anos sem David Capistrano”, o encontro tem entrada livre e gratuita, e ocorre na sede do Sindicato dos Bancários de Santos e Região (que fica no Canal 3, na Avenida Washington Luiz, 140).
Além do próprio sindicato, organizam o evento as seguintes entidades: Centro de Estudos Econômicos, Políticos e Sociais (Cepes), Coletivo de Saúde David Capistrano, Associação Cultural José Martí e Instituto Telma de Souza.
A reverência a Capistrano é merecida e justa.
Ele é um dos maiores nomes na história do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.
Primeiro como secretário de Saúde de Santos (entre 1989 e 1992), e depois como prefeito do município (1993 a 1996), Capistrano liderou a implementação de políticas públicas que se tornaram referência no país e no exterior.
De tão exitosas, as ações ultrapassaram os limites geográficos e administrativos de Santos, sendo incorporadas pelo Ministério da Saúde como políticas de âmbito nacional. No final dos anos 1990, Capistrano integrou a equipe do ministério, sob gestão de José Serra.
As ações de humanização da saúde mental e de prevenção, combate e tratamento da aids estão entre os legados mais emblemáticos de David Capistrano gestor público. Mas não só.
Ainda na área de saúde, inovou com programa de internação domiciliar e de saúde da família em Santos. Ergueu o primeiro hospital público da Zona Noroeste da cidade, o Hospital Che Guevara (alternado de nome pelo prefeito sucessor).
DNA DO BOLSA FAMÍLIA
Na educação e área social, implantou o Toda Criança na Escola, conjunto de medidas para combater a evasão escolar, que incluía pagamento de renda mínima – o DNA do que viria a ser, anos depois, o Bolsa Família.
Iniciou amplo projeto de erradicação das palafitas do Dique da Vila Gilda, infelizmente interrompido pelas administrações subsequentes (e só agora retomado, com apoio do Governo Lula). Igualmente, deu a largada em projeto de locação social para eliminar os cortiços do Paquetá – também descontinuado pelos prefeitos sucessores.
Requalificou a infraestrutura gastronômica da orla de Santos, substituindo os precários treilers por quiosques modernos e integrados à paisagem; ampliou consideravelmente a malha cicloviária da cidade, com a ciclovia longitudinal das avenidas Afonso Pena e Francisco Glicério. Construiu escolas, praças e áreas de convivência em bairros em todas as regiões – das mais nobres às historicamente carente de investimentos do poder público.
Nascido em 7 de julho de 1948, no Recife, Capistrano iniciou ainda adolescente a militância política.
Confira um resumo de sua biografia, feito pela Revista Radis, da Fiocruz:
“Davizinho, como era chamado entre seus pares da reforma sanitária, iniciou sua militância política aos 14 anos, como estudante secundarista, tendo ocupado cargos de dirigente no Partido Comunista Brasileiro. Formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1972, foi orador oficial de sua turma, e, já em seu discurso “Sede de justiça e fome de liberdade”, defendeu a centralidade da dignidade social e humana nas políticas públicas.
Com especialização em Pediatria, em 1974 David foi buscar a formação de sanitarista com Sergio Arouca, então professor de Medicina Social e Preventiva da Universidade de Campinas (Unicamp). Continuou sua formação com Kurt Kloetzel, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí e chefe do Centro de Saúde e Manicômio Judiciário do município de Franco da Rocha. Destas bases se formou seu pensamento sanitarista, que passou a se apoiar no combate ao preconceito, à discriminação e a toda e qualquer desigualdade.
Atuante no campo político, David Capistrano fez parte do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi secretário de Saúde de Bauru (SP), onde zerou a incidência de cárie em crianças menores de cinco anos e, em Santos (SP), em 1989. Além de secretário, também atuou como prefeito entre 1993 e 1996, colocando em prática, no interior de um hospital psiquiátrico, uma experiência no campo da Saúde Mental inédita no país: uma rede integrada de instituições, da qual os Núcleos de Apoio Psicossocial (Naps) eram os eixos principais.”
Capistrano morreu aos 52 anos, consequência de complicações no fígado, problema adquirido quando, nos anos 1980, tratou de uma leucemia.
Imagem em destaque: Capistrano, então secretário de Saúde de Santos, ao lado da prefeita Telma de Souza. Foto: acervo Instituto Telma de Souza
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