Um tira-dúvidas sobre a febre amarela

Médico de saúde da família explica casos em que a vacinação é prioridade e situações em que não é recomendada; e avisa: “não é preciso desespero”

Por Anelize Moreira e Leonardo Fernandes, do Brasil de Fato. Foto: Leo Ola/Prefeitura de Guaçuí (ES)

As dúvidas mais frequentes sobre a febre amarela são sanadas pelo médico de família e comunidade Thiago Henrique Silva, integrante da Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares.

Como está a situação da febre amarela? É para se apavorar?
Thiago Henrique Silva: Na verdade, a febre amarela é uma doença que apenas 10% dos casos são casos mais graves e que as pessoas reconhecerão como febre amarela.

Noventa por cento dos casos vai passar como se fosse qualquer outra virose e você nem vai saber que teve a febre amarela; pode-se apresentar o quadro viral, dor de cabeça, um pouco de febre, um pouco de dor no corpo, um pouco de dor articular, mas vai passar despercebido que foi a febre amarela.

Como 10% não é irrelevante, há um anseio da população para estar se vacinando porque já há casos de morte. É importante fazer a vacinação, mas não partir para o desespero. Devem tomar as vacinas, principalmente, quem vai para a área de risco, mas não com esse desespero todo.

“Se a pessoa não mora ou não viaja para área de risco, não precisa correr para se vacinar” Foto de Cristiane Sampaio/Brasil de Fato

Quem são as pessoas que não podem tomar a vacina?
Thiago Henrique Silva: De acordo com as recomendações da Fundação Oswaldo Cruz, que é o órgão brasileiro ligado ao Ministério da Saúde de controle a epidemias e que fabrica também a vacina, crianças menores de 6 meses de idade, pacientes com imunodepressão de qualquer natureza, ou pacientes que tomam corticóide ou estejam fazendo algum tratamento de imunossupressão. Estas pessoas estão tomando remédios que vão impedir o sistema imune responder àquele vírus vivo atenuado. Se o remédio impede o seu corpo de responder, é contra indicado tomar a vacina.

Outras contraindicações são pacientes que estão fazendo quimioterapia e radioterapia, pacientes que foram submetidos a algum transplante de órgãos – porque parte destes pacientes pós transplantados está tomando também corticóide ou algum remédio pra evitar a rejeição do órgão.

A vacina também não é recomendada para pacientes que tenham algum câncer em atividade ou que possuam histórico de reação anafilática das substâncias que compõem a vacina da febre amarela. A albumina, por exemplo, que está na vacina e é retirada da clara do ovo.

Quem tem alergia a clara de ovo ou gelatina bovina também não pode tomar de jeito nenhum.

No caso de portadores do HIV que tem o vírus controlado ou as pessoas com mais de 60 anos. Eles podem tomar, mas antes devem passar por avaliação médica…
Thiago Henrique Silva: Certo. O paciente que tem lupus, por exemplo. Às vezes ele tem que tomar corticóide mas a dose é baixa e não compromete o sistema imunológico. Ou também o paciente que está com uma infecção, gripado, com febre, pneumonia. Estes só devem tomar a vacina quando o quadro infeccioso melhorar. Recomenda-se que mulheres que estão amamentando crianças abaixo de 6 meses – que não podem de jeito nenhum tomar a vacina – ordenhem a quantidade de leite suficiente para 28 dias, que é o período de viremia, ou aguardem pelo menos 15 dias após ter tomado a vacina para voltar a amamentar

Quem já tomou a vacina anteriormente precisa tomar novamente?
Thiago Henrique Silva: Há uma polêmica recente em relação à proteção da vacina para a vida toda. A orientação da  Organização Mundial da Saúde (OMS) era de que a dose fosse reforçada a cada dez anos, mas novos estudos apontaram que a eficácia da vacina não diminui com o tempo.

A nova recomendação é válida até para as pessoas que se vacinaram antes de 2014, porque a dose não era fracionada.  Já a vacina nova, que é fracionada, vai proteger por 8 anos. Então não precisa sair pegando fila de dez horas se a pessoa não vai pra área de risco. Pode esperar um pouco para tomar a vacina.


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