O leite familiar que sustenta e custa o mesmo que as marcas gigantes

“Terra Viva” é produzido por cooperativa de assentados pela reforma agrária, e ganhou destaque neste fim de semana ao ser experimentado pelo ex-presidente Lula

Por Leonardo Fernandes, do Brasil de Fato

Quem caminha pelo supermercado e vê uma embalagem com a marca Terra Viva, em meio às gigantes dos laticínios, nem imagina o caminho que aquela caixinha percorreu até chegar à prateleira.

O leite Terra Viva é produzido na Cooperoeste, uma cooperativa de trabalhadores assentados da reforma agrária, localizada no município de São Miguel do Oeste (SC), próximo à fronteira com a Argentina. A indústria se tornou um símbolo da resistência do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) frente ao agronegócio.

Rogério Antônio Blanchi, 28 anos, trabalhador do setor de vendas e faturamento da cooperativa, se orgulha de ser um dos responsáveis por levar esses produtos à mesa dos brasileiros e brasileiras. “Eu me sinto honrado de botar uma comida na mesa de uma pessoa que não tem nem noção do que é o movimento, do que é uma cooperativa.”

VEM DE LONGE

A Cooperoeste foi criada em 1996 a partir da luta de trabalhadores rurais sem terra na região de São Miguel do Oeste, como conta Sebastião Vilanova, eleito recentemente para presidir o negócio. “Isso aqui é da reforma agrária de 1985, quando as famílias se organizaram, fizeram ocupação, conquistaram a terra, e a partir da terra partimos para a indústria, dando origem a esse patrimônio que temos hoje”, recorda.

Vilanova destaca que no começo não foi fácil dominar todo o processo de produção industrial, mas os cooperados seguiram adiante. “Até aquele momento só sabíamos produzir. E o desafio foi grande. Produzir, industrializar e comercializar, que envolve processos muito complexos. Mas estamos hoje com 22 anos de cooperativa e presentes em vários mercados do Brasil.”

PRODUÇÃO FAMILIAR

Hoje, a Cooperoeste tem em torno de 250 funcionários, com uma capacidade de 500 mil litros de leite por dia. A produção, comercializada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo [a preços similares aos das empresas tradicionais], tem a marca da luta diária dos trabalhadores rurais sem terra e dos produtores da agricultura familiar, responsáveis por mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.

“Esses produtos que industrializamos hoje vem de todos os assentamentos aqui da região, que são em torno de 15. Então, nós compramos o leite dessas famílias assentadas e de produtores da agricultura familiar. Hoje são em torno de 1500 produtores de leite, entre assentados associados e também pequenos agricultores da agricultura familiar”, explica.

VISITA DE LULA

Neste domingo (25), a caravana Lula pelo Brasil – etapa Sul – fez uma parada na Cooperoeste. O ex-presidente visitou a planta de produção do leite, e enalteceu a eficiência do sistema produtivo da agricultura familiar.

“A gente empresta 15 mil reais para um pequeno produtor e com isso ele agradece a vida inteira e consegue aplicar cada centavo para melhorar a produção, a qualidade e dar sustento a sua família”, destacou.


Lula prometeu, caso volte à presidência da República, impulsionar a criação de cooperativas e concluir a reforma agrária no Brasil, para permitir que produções como a da Cooperoeste possam competir em condições de igualdade com as grandes empresas do mercado.


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