Paraná e Santa Catarina somam 82 denúncias de assédio a trabalhadores nas eleições

Um total de 18 empresas paranaenses e 15 catarinenses foram denunciadas; confira como fazer se você for vítima desse abuso

Por Júlia Rohden, do Brasil de Fato | De São Paulo (SP)

O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Santa Catarina e no Paraná registrou 82 denúncias de trabalhadores coagidos pelos patrões a declarar voto a um candidato de preferência da empresa nas eleições deste ano.

Em ambos os estados, o candidato da extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) foi o candidato mais votado no primeiro turno.

Foram 64 denúncias contra 15 empresas catarinenses e outras 18 no Paraná, relacionadas a oito empresas.

Uma semana antes do primeiro turno, dois casos ganharam repercussão.

O primeiro foi um vídeo publicado por Luciano Hang, dono da Havan – empresa do setor varejista com sede em Santa Catarina. O segundo foi uma carta de Pedro Zonta, presidente da rede de supermercados Condor, que tem 12 mil empregados no Paraná. Ambos coagiram seus funcionários a votar no candidato do PSL.

A procuradora Cristiane Lopes do MPT do Paraná avalia que essa é uma prática peculiar destas eleições. A procuradora do MPT de Santa Catarina, Marcia Cristina Kamei Lopez Aliaga, também afirma que não há denúncias semelhantes em eleições anteriores.

INFLUÊNCIA SOBRE OS PEQUENOS

O advogado Prudente Mello acrescenta que o uso de redes sociais de grandes empresários para coagir os trabalhadores tende a influenciar pequenos empresários. “Esse empresário, Luciano Hang, quer dizer: nossos empregados são nossos e tem que cumprir aquilo que eu estou impondo, ou vão ser demitidos. O discurso levado têm essa noção e, ao fazer isso abertamente, tem como função induzir tantos outros empresários a essa lógica para que adotem igual comportamento”, analisa.

O advogado lembra que os empresários romperam com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e com a Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante a liberdade política de empregados.

É O VOTO DE CABRESTO

O historiador Jorge Barcellos fala da relação de poder do dono da empresa em relação ao funcionário, especialmente em um período de alto índice de desemprego. Para o historiador, é possível comparar a postura adotada pelos donos da Havan e do Condor com a prática conhecida como “voto do cabresto”, usada na República Velha pela elite proprietária de terras para coagir o voto dos empregados.

“A Nova República está tendo continuidade em uma nova etapa ao retorno da República Velha”, afirma. “Nós nunca estivemos tão perto do nosso início, como sociedade democrática, como estamos agora”, emenda o historiador, em referência aos retrocessos sociais no Brasil.

Imagem em destaque: sede em Curitiba do Ministério Público do Trabalho no Paraná. Foto: divulgação.


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