A experiência de uso de energia solar no Xingu

Resultados de projeto em território indígena no Mato Grosso confirmam eficácia econômica, social e ambiental da adoção de fontes renováveis na floresta

Do Instituto Socioambiental (ISA) | De Manaus (AM)

Sessenta e cinco aldeias do Território Indígena do Xingu (TIX), no Mato Grosso, já contam com sistemas de energia limpa.

São 70 sistemas fotovoltaicos (paineis para a captação de energia solar) instalados que geram energia renovável em escolas, postos de saúde e sedes de associações, com uma potência total de 33.260 kWp.

O projeto “Xingu Solar”, em voga desde 2015, se tornou uma referência em soluções de energia renovável em comunidades isoladas.

O Instituto Energia e Meio Ambiente (Iema), Instituto Socioambiental (ISA), Associação Terra Indígena Xingu (Atix) e Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP) apresentaram no último mês, na Feira e Simpósio Energia e Comunidades, em Manaus (AM), como a energia renovável pode beneficiar as comunidades indígenas.

O Iema avaliou os impactos econômicos do uso de painéis solares no Território Indígena do Xingu e os aspectos socioculturais e comportamentais locais com relação ao acesso à eletricidade. A pesquisa também mostrou que as comunidades locais preferem energias renováveis devido à segurança energética por não depender da disponibilidade de combustíveis fósseis, além dos benefícios ambientais.

“Com o potencial de energia solar da região do Xingu, não faz sentido que centenas de aldeias ainda dependam, o ano todo, de uma complexa logística para abastecimento e manutenção de geradores a diesel. É possível ter em fontes alternativas o suprimento para as necessidades dos índios, com um custo menor no longo prazo”, aponta o coordenador adjunto Paulo Junqueira, do Programa Xingu, do ISA.

COMO FUNCIONA

Os painéis foram instalados em construções de uso público e não em unidades familiares. No total, 96% dos habitantes com energia fotovoltaica preferem este tipo de geração do que a proveniente de derivados do petróleo, como os geradores a diesel.

A maior oferta de energia elétrica possibilitou a abertura de novas turmas nas escolas. 43% das aldeias com energia solar tiveram escolas que disponibilizam ensino noturno, contra 25% das demais.

Nem todos os brasileiros estão conectados aos fios do Sistema Interligado Nacional (SIN), que distribui a energia gerada pelas diversas fontes do país. E a maior parte dessas pessoas desconectadas está na Amazônia.

“A motivação é discutir o acesso à energia elétrica às centenas de milhares de brasileiros que vivem em áreas remotas na Amazônia, na expectativa de que o enfrentamento deste desafio se dê por meio de uma política pública articulada e inovadora que vá além do setor elétrico”, conta o pesquisador Pedro Bara, do Iema.

Para garantir que a universalização seja realizada da melhor forma, potencializando todos esses benefícios, é necessário o desenvolvimento de modelos de implementação que incluam as comunidades e que as políticas públicas do setor elétrico se adequem às realidades locais.

Entre as vantagens do sistema fotovoltaico frente ao diesel foram citadas a inexistência de ruído, a manutenção mais fácil e a dispensa de partes móveis como os geradores a diesel além do fato de ser desnecessário o abastecimento com combustível. Neste caso, quando acaba o diesel, a comunidade depende do reabastecimento para voltar a ter energia elétrica. Com isso, 53% dos indígenas com fontes de energia solar sentiram-se mais seguros no atendimento médico de urgência, contra 24% sem energia solar.

Além disso, a energia expandiu a utilização de equipamentos pequenos como celulares e lanternas. Os cursos de formação para operação dos sistemas e a participação local na instalação também foram mencionados como pontos positivos do projeto.

Em um primeiro momento, a tecnologia a diesel tem vantagem sobre a solar. Isso porque apresenta menores custos de aquisição. Porém, o ciclo de vida de um painel solar é de 25 anos. Para realizar uma comparação econômica adequada entre as tecnologias, é preciso considerar as despesas operacionais (manutenção do gerador e abastecimento com combustível) a longo prazo.

Imagem em destaque: mutirão de instalação de placas de energia solar na aldeia Piyulaga do povo Wauja. Foto de Todd Southgate/ISA



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