Política de preços da Petrobrás implementada depois que Temer tomou o lugar de Dilma, e que está sendo intensificada no governo Bolsonaro, faz o preço do botijão disparar. E a tendência é piorar
Por Marcos Hermanson, do Brasil de Fato | De São Paulo (SP)
[As famílias brasileiras que o governo de Bolsonaro e Cia. diz defender receberam de presente no Dia das Mães passado mais um aumento no valor do gás de cozinha, dessa vez de 3,5%.]
Desde 2016, o valor do produto no território nacional cresceu em 30% – foi de R$ 53 a R$ 69, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Em alguns locais, entretanto, o preço ao consumidor final chegou a superar os R$ 100.
A trabalhadora Júlia de Souza, vigilante na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP), zona oeste da capital paulista, passa o dia todo fora, e só tem tempo de cozinhar quando chega em casa, pela noite. Apesar do consumo de sua família ser baixo – ela vive com marido e dois filhos – e ter se mantido estável nos últimos anos, a trabalhadora viu a conta do gás dobrar de preço nos últimos anos.
Para conseguir se sustentar, Júlia “dá uma segurada daqui, poupa dali”, e vai sobrevivendo ao aumento cada vez maior do custo de vida, conforme ela própria conta.
Mas o que explica o crescimento tão abrupto no valor desse produto essencial nos domicílios brasileiros?
Para o analista Cloviomar Pereira, técnico do Departamento Intersindical de Economia e Estatística (Dieese) e assessor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), a resposta está na política de preços implementada depois que a presidenta Dilma Rousseff foi derrubada em 2016, e Michel Temer assumiu o governo colocando Pedro Parente na presidência da Petrobrás.
“Desde a gestão Pedro Parente, a Petrobrás adota uma política de atrelamento internacional dos preços [do petróleo] e de seus derivados. Gasolina, diesel, e todos os outros derivados vendidos nas refinarias passaram a acompanhar os preços internacionais”, explica Pererira.
INSTABILIDADE
Por conta dessa medida, o preço do botijão atualmente depende não só do preço cobrado em outros países, mas também do câmbio internacional. Se o real se desvaloriza em relação ao euro, por exemplo, o gás fica mais caro para o consumidor brasileiro.
Integrante da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Alexandre Finamori, técnico de operação na refinaria Gabriel Passos (MG), observa que essa política de atrelamento à instabilidade do câmbio e às regras de mercado prejudica não só o consumidor, como também a própria Petrobrás.
“Essa política é muito prejudicial até para a empresa, que está perdendo espaço de mercado. Desde 2016 vem aumentando a importação de diesel e gasolina, o que aumenta ainda mais o preço nacional dos combustíveis”, expõe o petroleiro.
Tanto ele como Pereira, do Dieese, afirma que a política de preços implantada por Temer e que está sendo continuada pelo governo de Jair Bolsonaro atende ao interesse do grupo político e econômico que está no poder de vender as refinarias da Petrobrás a empresas privadas.
“Tem dois motivos: primeiro para facilitar o processo de venda das refinarias. Nenhuma empresa privada compra refinarias e vai produzir derivados [do petróleo] se o preço desse derivado não for atrelado ao mercado internacional. Segundo, para aumentar o pagamento de dividendos aos acionistas”, enumera o analista do Dieese.
“Com isso, o que a gente espera é um mercado mais privado e uma maior insegurança em relação aos preços dos derivados”, conclui Pereira.
Ou seja, mais aumentos abusivos à vista.
Imagem em destaque: botijão de gás à mercê dos humores do mercado especulativo. Foto de Marcello Casal/Agência Brasil
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