Ela discorda de ser chamada de representante do feminismo negro brasileiro, ao ressaltar que o Brasil tem suas próprias lutadoras como referência.
Do Brasil de Fato | De São Paulo (SP)
Uma das mais reconhecidas militantes da luta contra o racismo em todo o mundo, a professora Angela Davis palestrou pela primeira vez em São Paulo (SP) neste sábado (19).
O evento, parte do lançamento de sua autobiografia “A liberdade é uma luta constante”, publicada pela editora Boitempo, reuniu cerca de mil pessoas no auditório do Sesc Pinheiros.
Davis falou de sua trajetória pessoal, abordou de forma crítica as principais correntes do pensamento feminista atual e narrou a contribuição da luta das mulheres negras na construção de sociedades mais justas e na consolidação da democracia.
A professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da Califórnia e ex-Pantera Negra ressaltou os feminismos negros do Brasil, e citou nomes como Marielle Franco, Luiza Bairros, Lélia Gonzalez e Carolina Maria de Jesus.
Angela Davis ressaltou que não precisa ser considerada a referência do feminismo negro brasileiro, pois aprendeu muito com as feministas negras do país.
“Eu me sinto estranha quando sinto que estou sendo escolhida para representar o feminismo negro. E por que aqui no Brasil vocês precisam buscar essa referência nos Estados Unidos? Eu acho que aprendo mais com Lelia Gonzales do que vocês poderiam aprender comigo”, argumentou Davis.
Ela criticou a ideia dominante nos Estados Unidos de que o país merece representar todos os países das Américas.
“De fato, se houvesse um país para representar todos os povos dessa região, deveria ser o Brasil e não os EUA”, afirmou.
Atenta à política brasileira, Angela Davis questionou a prisão de Preta Ferreira, exigiu a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pediu justiça pelo assassinato de Marielle Franco.
“Marielle permanece viva, é uma luz de esperança pelo mundo afora para as pessoas que acreditam profundamente na possibilidade da transformação racial no Brasil, nas Américas, e por todo o planeta. Ela não acreditava que o racismo estava destinado a ser uma característica permanente da sociedade. Mesmo com um legado de 500 anos, ele poderia ser abolido”, argumentou.
A ativista estadunidense também defendeu uma transformação radical e socialista, rememorando a luta do povo com a revolução cubana e destacando a necessidade de movimentos anticapitalistas.
“Sem o racismo, sem o heteropatriarcado e sem os ataques ao meio ambiente. A liberdade, de fato, é uma luta constante”, sublinhou Angela Davis.
Imagem em destaque: Angela Davis, em palestra o Sesc Pinheiros. Foto de Pamela Oliveira
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