Venda dos Correios e extinção da Ceitec põem Brasil na rota do atraso

É o ‘passar a boiada’, afirma economista Uallace Moreira, que explica os prejuízos para a nação; confira como defender esses patrimônios


Da Rede Brasil Atual | De São Paulo (SP)

Como havia anunciado na última segunda-feira, dia 2, o ministro da Comunicações, Fábio Faria, começou a tramitar na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) 591/2021, de privatização dos Correios. A justificativa é que a estatal daria prejuízo para os cofres públicos.

No entanto, em 2020, os Correios registraram lucro R$ 1,53 bilhão.

Foi o quarto ano seguido com balanço positivo.

Além disso, foram investidos R$ 1,1 bilhão, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, público), para a modernização da infraestrutura da estatal.

De acordo com o professor Uallace Moreira, da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), os argumentos em favor da privatização não se sustentam.

CRIME

“Trata-se de um crime contra a soberania brasileira”, afirmou, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira, dia 4.

Outro “crime” contra a soberania, segundo ele, é a extinção do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), anunciada pelo governo federal na semana passada.

A Ceitec é uma empresa estatal especializada no desenvolvimento e na produção de semicondutores.

Um setor que passa por uma “guerra internacional”, devido à elevada demanda por chips que são utilizados em todos os segmentos da chamada indústria 4.0.

QUEM PAGA É O POVO

Além da perda de soberania, quem paga o preço é o povo brasileiro, afirma Moreira.

Como exemplo, ele relaciona o aumento do preço dos combustíveis ao processo de privatização do parque de refino da Petrobras.

O que vem acarretando no aumento da importação de óleos refinados, enquanto a estatal eleva a exportação de petróleo bruto.

“E não é novidade nenhuma. O (ministro da Economia) Paulo Guedes sempre defendeu isso. É importante ter clareza que ninguém está sendo pego de surpresa. O projeto é privatizar tudo, e não deixar sobrar nada. Como diz o ex-ministro (Ricardo Salles, do Meio Ambiente), é passar a boiada.”

A entrevista está em um trecho do vídeo abaixo (a partir de 57’30”):

O economista aponta que os prejuízos registrados pelos Correios entre 2013 e 2016 não ocorreram por falta de eficiência ou custos elevados de operação. Mas porque o governo federal retirou dividendos muito acima dos lucros registrados nesse período. “Essas retiradas chegaram a R$ 7 bilhões. Entre 2012 e 2013, por várias razões, também não houve reajuste das tarifas, acarretando perdas em torno de R$ 1,2 bilhões.”

Mesmo nos Estados Unidos, onde o serviço postal é deficitário há mais de uma década, não se fala em privatização.

A empresa lá é valorizada como um símbolo de soberania nacional.

Já países como Portugal e Inglaterra estudam reestatizar o setor, privatizado anteriormente.

Isso porque, apesar do aumento das tarifas, houve queda na qualidade dos serviços, justamente em função da falta de investimentos pelo setor privado.

DEMISSÕES

Moreira alerta que a privatização dos Correios deve levar à demissão de até 70 mil funcionários.

A estatal cumpre também um papel fundamental na integração territorial do país.

Segundo o economista, levar cartas e encomendas a regiões de mais difícil acesso, no interior do país, não interessa ao capital privado.

CEITEC, ESTRATÉGICA

A falta de semicondutores tem causado paralisação da produção de automóveis no Brasil.

Nesta semana, foi a vez de a Renault interromper a produção na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Fiat, GM e Volkswagen também sofrem com a falta do insumo.

Enquanto isso, engenheiros do Ceitec alegam que teriam condições de produzir os chips de 80 nanômetros, utilizados pela indústria automobilística.

É essa empresa pública, filé mignon construído com dinheiro do povo, que o atual governo está liquidando, em benefício das mega corporações

Novamente, a extinção da empresa se dá sob o pretexto dos supostos prejuízos aos cofres públicos. Contudo, Moreira alerta que se trata de um setor intensivo em capital, no qual os investimentos demoram décadas para dar o retorno devido.

Mais do que a questão fiscal, trata-se de garantir autonomia para a indústria nacional, num cenário de acirrada competição internacional.

Países como Estados Unidos e Coreia do Sul dominam o setor de semicondutores, com empresas como a Intel e a Samsung.

Mesmo privadas, estas mesmas companhias contam com investimentos vultosos dos respectivos governos.

O plano de recuperação econômica anunciado pelo presidente estadunidense, Joe Biden, prevê a aplicação de US$ 52 bilhões para a ampliação do setor.

Por outro lado, a China anunciou investimentos de US$ 1,7 trilhão, para se defender da ofensiva de Washington, que impõe sanções na venda de semicondutores.

Ceitec é estratégica para o desenvolvimento em tecnologia.

“Em meio a esse cenário, [o atual governo] simplesmente fecha a Ceitec. Em vez de investir, ampliar a capacidade produtiva e o seu potencial de inovação”, critica o economista.

A decisão deve acarretar no aumento do déficit comercial no setor de eletroeletrônicos, por conta da importação dos semicondutores. Além disso, toda a indústria nacional acaba ficando refém da produção externa, ameaçando milhões de empregos, em caso de interrupção da cadeia de suprimentos, como vem ocorrendo agora.

Clicando aqui, você acessa abaixo-assinado e outras informações para garantir a sobrevivência da Ceitec.

E aqui, petição contra a entrega dos Correios ao mercado.


Imagem em destaque: condutores produzidos pela Ceitec, empresa do povo brasileiro que está em liquidação pelo atual governo. Foto: Ceitec



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