Professores de Psicologia, Christian Dunker, e de Filosofia, Renato Janine Ribero explicam como esse processo ajuda uma pessoa a crescer; ouça o áudio do bate-papo
Por Sandra Capomaccio, do Jornal da USP | De São Paulo (SP)
Quem nunca cometeu um erro na vida e se sentiu culpado, garantindo que não faria aquilo nunca mais?
O erro não deve ser visto como algo que tenha que ser castigado, muito pelo contrário, o erro ensina, justamente por não se saber que seria um erro.
São as chamadas tentativa e inexperiência que nos levam a ele.
À LUZ DA PSICANÁLISE
O psicanalista Christian Dunker, professor do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), explica os três estágios de negação da verdade: o erro, a ilusão e a mentira.
“Historicamente, o erro tem que ver com uma certa desorientação em relação ao saber. As três figuras que são negações da verdade: uma é o erro, que se caracteriza por uma certa indeterminação de para onde se vai, mas temos também a ilusão, que seria então o contrário da boa representação, seria a falsidade do ponto de vista cognitivo. E temos também a mentira, que é a intencionalidade de manipular e produzir um estado de consciência no outro propositadamente equivocado”, diz Dunker.
CAMINHO DA VERDADE
A pessoa que comete o erro não desconfia que está errando, diferente da pessoa que está mentindo e que sabe que está enganando alguém.
O psicanalista da USP reforça que o erro é o caminho da verdade.
Já para o professor de Ética e Filosofia Política, Renato Janine Ribeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, errar pode ser bom, principalmente em uma etapa do conhecimento, e ajuda a aprender.
Sendo assim, não se deve ter o sentimento de culpa.
“Errar não é necessariamente uma coisa ruim, então nós temos que distinguir erro e mentira. Na mentira, há uma intenção ruim e, no erro, não necessariamente. Errar pode ser, por exemplo, uma etapa do conhecimento, como quando se fala ensaio e erro nas pesquisas em geral. Você segue esse caminho tentando uma coisa, se der errado, você aprendeu com isso. É muito enriquecedor você errar durante a pesquisa”, avalia Janine Ribeiro.
A TRANSFORMAÇÃO COM O ERRO
O erro é transformador e muda o caminho de quem o cometeu.
Ele é uma junção de culpa e arrependimento e nos leva à reparação, como explica o psicanalista Christian Dunker:
“É essa reparação que é terapêutica. É essa reparação que transforma as pessoas, não o arrependimento e a culpa”, finaliza.
OPORTUNIDADE DE CRESCER
Para o professor Renato Janine Ribeiro, o arrependimento é natural do erro, não tem desvios éticos que comprometam de alguma forma quem o cometeu.
O erro precisa ser ressignificado. A pessoa precisa perceber que as falhas cometidas podem ser a oportunidade de crescimento, seja na vida pessoal como na profissional, ajudando a estar alerta e motivada, sublinha Ribeiro.
Já o psicanalista Christian Dunker diz que o erro do outro também nos ensina a evitar que aqueles atos sejam repetidos.
VERGONHA, CULPA E PEDIR DESCULPAS
Errar pode trazer vergonha e culpa.
Embora seja desconfortável, é importante pedir desculpas e admitir que se errou para que se esteja pronto para a mudança.
O valor da verdade precisa estar na fala.
A dificuldade de pedir desculpas no Brasil é orgânica e difícil de admitir, porque isso implicaria em não ter mais a segunda chance.
Sabe aquela famosa frase que você já ouviu ou falou para alguém: Errar é humano? Pois é isso, errar é humano e não se deve ter medo de falhar, já que tudo faz parte do crescimento pessoal.
Ouça abaixo o bate-papo com os dois professores.
Imagem em destaque: foto ilustrativa, da matéria original no Jornal da USP
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