Livro aborda os modos de habitar espaços urbanos em cidades africanas

Publicação pode ser lida e baixada gratuitamente; obra é organizada pelas pesquisadoras Andréia Moassab (Unila) e Marina Berthet (UFF)


Da Unila | De Foz do Iguaçu (PR)

Integrar a discussão sobre a modernidade ocidental capitalista e a urbanização à realidade dos espaços habitados no continente africano.

Este é o objetivo de “Territórios, cidades e identidades africanas em movimento”, livro que acaba de ser lançado pela Editora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), a Edunila.

A obra leva também a um pensar sobre as cidades africanas, de modo a contribuir para a construção de soluções criativas que possam ser utilizadas em outros espaços do Hemisfério Sul.

Organizada por Andréia Moassab e Marina Berthet, a publicação traz oito capítulos em que são discutidos aspectos sobre modernidade ocidental capitalista e a urbanização em interrelação com a realidade dos espaços habitados no continente africano.

Em formato digital, a obra já pode ser baixada gratuitamente na página da editora.

Segundo as organizadoras, ao manter diálogo com o continente africano, busca-se uma nova visão, em que seja possível vislumbrar outros parâmetros de análise que possam ser voltados a outras cidades em todo o mundo e que não tenham como base modelos advindos do continente europeu e que sejam definidos por critérios patriarcais, racistas e capitalistas.

FORMAS DE VIVER NAS CIDADES AFRICANAS

“A capacidade política de apropriação e de reinvenção dos modelos culturais urbanos ocidentais é cada vez mais levada em consideração por diversos pesquisadores e pesquisadoras para entender as atuais formas de ser, de estar e de viver nas cidades africanas”, escrevem Andréia Moassab e Marina Berthet na apresentação da obra.

De acordo com ambas, trazer este debate para o contexto brasileiro é uma oportunidade de acrescentar variáveis para os estudos relacionados às transformações sociais, econômicas e políticas das urbanidades contemporâneas. “Afinal, a África é o continente cujas taxas de urbanização são as mais elevadas do globo terrestre, conforme apontam dados recentes das Nações Unidas, ao mesmo tempo em que a ruralidade permanece um potente marcador socioespacial”, argumentam.

OBRA MULTIDISCIPLINAR

Visando a pensar o continente africano com base nas diferentes realidades espaciais locais e sob um ponto de vista multidisciplinar, as organizadoras convidaram pesquisadoras e pesquisadores de várias áreas para colaborar com a obra.

Entre essas áreas, estão Arquitetura e Urbanismo, Desenvolvimento Rural, Antropologia, História, Geografia e Sociologia.

SOBRE AS ORGANIZADORAS

Essa característica multidisciplinar é marcada já a partir da trajetória de ambas as organizadoras. Arquiteta e urbanista, doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Andréia Moassab é docente na Unila e líder do Grupo de Estudos Multidisciplinares em Urbanismos e Arquiteturas do Sul (Maloca).

Em Cabo Verde, foi coordenadora de pesquisa do Centro de Investigação em Desenvolvimento Local e Ordenamento de Território da Universidade de Cabo Verde, entre 2009 e 2012.

Por sua vez, Marina Berthet é antropóloga e professora de História da África na Universidade Federal Fluminense (UFF), e pesquisadora do Centro de Estudos Africanos do Porto (Portugal), com área de interesses na noção de trabalho forçado e emigração cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe.

OUTROS AUTORES

A elas se juntam, na obra, Odair Barros-Varela, mestre e doutor em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal), autor de um capítulo em que propõe uma perspectiva pós-colonial crítica sobre a modernidade para pensar a África na atualidade.

Por sua vez, Cabo Verde é base para o estudo de caso do historiador Victor Barros, doutor em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra (Portugal), que explora questões sobre identidades políticas no continente africano que têm ligações nas tensões entre o regime colonial e a construção de uma nação independente.

Em seguida, o livro traz análises sobre a questão do espaço e do território em Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, em textos assinados por Andreia Moassab, por Céline Veríssimo – mestra em Arquitetura pela Universidade de Chiba (Japão) e doutora pela Bartlett Development Planning Unit na University College London (Inglaterra) e docente da Unila – e por Marina Berthet, respectivamente.

Complementam a obra os capítulos assinados por Redy Lima, doutorando em Estudos Urbanos na Universidade Nova de Lisboa e no ISCTE-IUL; por Alain Kaly, doutor em Sociologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; e pelo antropólogo e historiador Fernando Rosa Ribeiro, que apresentam aspectos das identidades e das dinâmicas de cidades africanas como Praia, em Cabo Verde; Saint Louis, no Senegal; e Cidade do Cabo, na África do Sul, e sua relação com Malaca, na Malásia.

ARTE VISUAL

Além dos textos, chama atenção no livro a obra do artista visual cabo-verdiano César Schofield Cardoso, que ilustra a capa.

Em diálogo com os capítulos, a fotografia escolhida pelas organizadoras integra a série “Espaços Vacilantes”, em que o artista lança um olhar para construções abandonadas, inacabadas, para terrenos que serão ocupados, para casas aparentemente em locais ermos, para antenas parabólicas e roupas ao vento “numa paisagem árida”.


Imagem em destaque: capa do livro “Territórios, cidades e identidades africanas em movimento”, cuja arte é do artista visual cabo-verdiano César Schofield Cardoso




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