Medalhistas são beneficiários do Bolsa Atleta. Além de top-15 no total de medalhas e top-20 em número de ouros, país viu modalidades com desempenho inédito nestes Jogos Olímpicos. Destaque também para o protagonismo das mulheres, e das mulheres negras
Por Wagner de Alcântara Aragão (@waasantista), com informações do COB e da Agência Gov | De Curitiba (PR), Brasília (DF) e Paris (França)
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 deixaram evidente para o Brasil a importância de políticas públicas para o desenvolvimento do esporte.
O país teve desempenho histórico nesta Olimpíada. Já nos aprofundaremos nessa participação. Antes, acompanhemos estes dados do Ministério dos Esportes:
– 100% dos medalhistas olímpicos brasileiros são beneficiários do Bolsa Atleta;
– Em 27 das 39 modalidades em que o país foi representado na França, 100% dos atletas integram atualmente esse programa de patrocínio governamental;
– Levando-se em conta o edital mais recente, de 2024, 241 dos 276 atletas que representaram o Brasil na capital francesa fazem parte do programa, um percentual de 87,3%;
– Se a análise leva em conta o histórico dos atletas, 271 dos 276 já foram integrantes do programa do governo federal em alguma fase da carreira (98%);
– Os medalhistas mais longevos dentro do Bolsa Atleta são Rafaela Silva, do judô, contemplada em 15 editais; Caio Bonfim, da marcha atlética, em 14 editais; Isaquias Queiroz com 13; Rosamaria, do vôlei, com 12; e Rebeca Andrade, também com 12.
O Bolsa Atleta foi criado pelo governo federal em 2004, no primeiro governo Lula.
Tem inspiração em iniciativas locais, como programa similar impulsionado em Santos desde o final dos anos 1980, conforme contamos no livro “Santos, 1989 – as políticas públicas que inspiram um país (e o mundo também)”.
- Rayssa Leal: “O Bolsa Atleta ajuda bastante no desempenho nos campeonatos”
- Jade Barbosa: “O Bolsa Atleta é essencial”
- Lorrane Oliveira: “Bolsa Atleta foi o que me ajudou nessa caminhada”
- Caio Bonfim: “não tem como falar da minha história sem falar do Bolsa Atleta”
Entretanto, desde o golpe de 2016, e principalmente a partir de 2019, não só o Bolsa Atleta como outros investimentos públicos em esporte (patrocínio de estatais e companhias públicas, por exemplo) foram drasticamente cortados. Nesse período, o Ministério do Esporte chegou a ser extinto – foi recriado em 2023, no terceiro governo Lula.
Ou seja, não fosse essa interrupção abrupta em políticas públicas nacionais voltadas ao esporte, e possivelmente o desempenho do Brasil em Paris 2024 poderia ter sido ainda melhor.
Mesmo assim, foi uma participação histórica. Vejamos informações do Comitê Olímpico do Brasil (COB):
– Foram 20 medalhas nesta edição dos Jogos Olímpicos, sendo três de ouro, sete de prata e 10 de bronze;
– Foi a segunda melhor campanha brasileira da história, superando o desempenho na Rio 2016 no número total de medalhas, atrás apenas de Tóquio 2020;
– Além disso, o país se confirmou no top-20 no número de ouros, e top-15 no total de medalhas.
Mas a análise do desempenho não pode se restringir ao quantitativo de medalhas.
Faz-se necessária uma avaliação qualitativa, e algumas conquistas de atletas brasileiros e brasileiras nos proporcionam essa análise. Por exemplo:
– Hugo Calderano, do tênis de mesa, primeiro atleta não asiático nem europeu a ser semifinalista olímpico
– Luiz Maurício conseguiu o recorde sul-americano no lançamento do dardo, alcançando uma final olímpica para o Brasil na prova após 92 anos;
– Valdileia Martins quebrou o recorde brasileiro, que durava 35 anos, e conseguiu a melhor marca da carreia, com 1,92m no alto em altura;
– Almir Junior se tornou o primeiro finalista brasileiro do salto triplo desde Pequim 2008.
Ainda tem mais ineditismos:
– No badminton, Juliana Viana conseguiu a primeira vitória olímpica de uma brasileira na modalidade;
– Gustavo “Bala Loka” conseguiu o top-10 no ciclismo BMX, com o 8º lugar no Freestyle;
– Mafê Costa, primeira finalista dos 400m em 76 anos, que também se destacou ao bater o recorde dos 200m na prova de revezamento do 4x200m, com o tempo de 1min56s06;
– Miguel Hidalgo ficou no 10º lugar na prova individual do triatlo, a melhor colocação de um brasileiro da modalidade nos Jogos.
Imprescindível registrar o protagonismo das mulheres nessas conquistas – e das mulheres negras.
Das 20 medalhas conquistadas pelo Brasil, 12 foram em modalidades no feminino.
Os três ouros vieram com elas também (Beatriz Souza, Rebeca Andrade e a dupla Ana Patrícia/Duda).
Já entramos em contagem regressiva para Los Angeles 2028.
Que as políticas públicas em esporte – em escala nacional e em nível local – se ampliem.
Mais recursos, mais áreas nas cidades destinadas a canchas desportivas, mais valorização da Educação Física, mais prática nas escolas.