Sylvio Back 8.0

Depois de Porto Alegre e Florianópolis, é a vez de Curitiba receber a mostra de filmes de um dos mais premiados cineastas brasileiros, e que está completando 80 anos em 2017

Por Wagner de Alcântara Aragão | Foto: Cido Marques/Fundação Cultural de Curitiba

Mais de 70 prêmios nacionais e internacionais e três dezenas de filmes (entre longas, médias e curtas metragens) de sua autoria. São alguns dos números da carreira do jornalista, escritor e cineasta Sylvio Back, que completa 80 anos em 2017 e está sendo homenageado por uma mostra que desembarcou em Curitiba nesta semana.

Até o dia 15, serão exibidos 12 longas metragens do cineasta, primeiro na Cinemateca (até domingo, dia 8), e depois no Cine Guarani (de 9 a 15 de outubro) – dois espaços públicos, mantidos pela Prefeitura. As sessões são gratuitas.

Denominada “Sylvio Back 8.0 – Filmes Noutra Margem”, a mostra já passou por Porto Alegre e Florianópolis, em setembro. Na capital paranaense, a programação incluiu um debate com o cineasta, na noite desta quarta-feira, dia 4, na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Por quase duas horas, Sylvio Back contou a uma plateia formada em sua maior parte por estudantes causos de suas cinco décadas de carreira. Relembrou do sonho de infância que o motivou a se enveredar pelo cinema e traçou um panorama, sob sua ótica, do audiovisual na atualidade.

Sylvio Back, com os professores Fernando Severo e Rosane Kaminski, na UFPR (foto: @waasantista)

“Do ponto de vista da tecnologia, facilitou muito. Hoje com o digital é mais fácil. Antes tinha de fazer copião. Hoje tem diretor que vai montando o filme à medida que se vai filmando. Mas tem uma dificuldade maior, em relação a antigamente: a da criação. Tem muita gente que tem a tecnologia, tem vontade de fazer cinema mas não consegue porque não tem ideia do que fazer”, comparou ele.

DO SUL PARA O RIO

Sylvio Back é catarinense (nasceu em Blumenau, em 22 de julho de 1937), mas ainda criança se mudou com a família para o Paraná. Instalou-se inicialmente em Curitiba, depois morou um tempo no litoral (Antonina e Paranaguá), até voltar a capital em 1957. Quase 30 anos depois, com uma carreira já internacionalmente reconhecida, migrou, em 1986, para o Rio de Janeiro, onde reside até hoje.

“Uma vez em um debate a pergunta para os participantes era ‘por que filmo?’. Fiquei pensando e entendi que filmo para resgatar o sonho de menino quando, em Paranaguá, via imagens da produção de filmes em duas revistas que gostava de ler na época, ficava esperando chegar às bancas, a Filmelândia e a Cinelândia”, revelou o cineasta.

SOBRE OS FILMES

Sylvio Back relembrou ainda de fatos envolvendo a realização de boa parte dos filmes que compõem a mostra, como “Lance Maior”, de 1968, que marcou a estreia de Regina Duarte na telona; “O Contestado – Restos Mortais” (2010), que traz depoimentos de atores em transe, dando testemunhos mediúnicos de pessoas que vivenciaram aquele conflito; e ainda de “A Guerra dos Pelados” (de 1970), o qual no primeiro fim de semana foi sucesso de bilheteria mas, na sequência, fracassou. “Acompanhei a estreia no cinema e senti que as pessoas estavam ali achando que era um filme de sacanagem [por causa do nome]. Como não era, se decepcionaram. O filme teve muita mídia, mas pouca bilheteria.”

O cineasta narrou também a saga para fazer um filme adaptado do romance “Angústia”, de Graciliano Ramos. O diretor e roteirista chegou a comprar os direitos para a elaboração do roteiro, que ficou pronto depois de nove meses. Entretanto, divergências com parte dos 15 familiares herdeiros dos direitos do escritor alagoana inviabilizaram a concretização da obra. De qualquer modo, Sylvio Back já tinha conseguido fazer um documentário – “O Universo Graciliano”, lançado em 2015. Para o cineasta, esse filme bastou para que se sentisse realizado em produzir uma obra sobre aquele que considera um dos maiores nomes da literatura brasileira.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DA MOSTRA “SYLVIO 8.0” EM CURITIBA*:

3 de outubro – Cinemateca
10 de outubro – Cine Guarani

17h – LANCE MAIOR (1968, 100’)
Com: Reginaldo Faria, Regina Duarte e Irene Stefania
História de jovens que buscam os ideais perdidos e um lugar ao sol. Eles representam a inquieta juventude do final da década de 1960. O bancário Mário é um desses jovens e se vê dividido entre o amor de duas mulheres.

18h30 – Abertura oficial com a presença de Sylvio Back

19h – A GUERRA DOS PELADOS (1971, 98’)
Com: Jofre Soares, Stenio Garcia, Atila Iorio
O filme é baseado no episódio histórico da Guerra do Contestado (1912-1916) quando, em 1913, em Santa Catarina, houve um conflito envolvendo cessão de terras a uma companhia estrangeira. Os expropriados foram chamados de “pelados”, pois rasparam a cabeça e se entricheiraram num reduto messiânico, lembrando Canudos.

4 de outubro – Cinemateca
11 de outubro – Cine Guarani

17h – ALELUIA GRETCHEN (1976, 118’)
Com: Carlos Vereza, Míriam Pires, Lilian Lemmertz
A saga de uma família de imigrantes alemães que, fugindo do nazismo, vem se radicar numa cidade do Sul do Brasil, por volta de 1937. Às vésperas e durante a II Guerra Mundial, membros da família se envolvem com a Quinta Coluna (espionagem nazista no Brasil) e o Integralismo. Na década de cinqüenta, graças a ligações perigosas com o rescaldo da guerra, os Kranz são visitados por ex-oficiais da SS em trânsito para o Cone Sul.

19h30 – REVOLUÇÃO DE 30 (1980, 118’)
Revolução de 30 é um filme-colagem de uma trintena de documentários e filmes de ficção dos anos 20, culminando em cenas inéditas da Revolução de 1930. Todo em preto e branco, o principal tônus é a excelência da restauração fotográfica de suas imagens, emoldurada por uma trilha sonora autêntica, de rara beleza e qualidade de emissão. Com comentários dos historiadores Bóris Fausto, Edgar Carone e Paulo Sérgio Pinheiro.

5 de outubro – Cinemateca
12 de outubro – Cine Guarani

17h – REPÚBLICA GUARANI (1982, 100’)
Através de imagens de arquivos e depoimentos de célebres historiadores das mais diversas nacionalidades e linhas de pesquisa, Sylvio Back remonta os passos das missões jesuíticas que aportaram no Brasil e na América do Sul no século 17 para compreender as formações e os costumes das antigas comunidades indígenas nativas que foram dizimadas pelo homem branco.

19h – GUERRA DO BRASIL (1987, 104’)
Entre 1864 e 1870, a América do Sul é palco do maior e mais sangrento conflito armado do século, conhecido como a “Guerra do Paraguai”, ou “Guerra Grande”, para os paraguaios. Misturando realidade e ficção, o documentário debate este “ensaio” da I Guerra Mundial, que envolveu Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, vitimando em torno de um milhão de pessoas. No filme entrelaçam-se a história oficial, o imaginário popular e a crítica de militares, cronistas e historiadores.

6 de outubro – Cinemateca
13 de outubro – Cine Guarani

17h – RÁDIO AURIVERDE (1991, 70’)
O documentário Rádio Auriverde discute a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, através da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Com imagens e sons inéditos de Carmen Miranda e do Brasil da época, o filme penetra no desconhecido universo da guerra psicológica que conturbou a presença da FEB na Itália (1944-45). Através das musicalmente alegres e debochadas transmissões de uma rádio clandestina, tema-tabu entre os pracinhas, o filme acaba também revelando as tragicômicas relações entre os Estados Unidos e o Brasil durante o conflito.

19h – YNDIO DO BRASIL (1995, 70’)
Colagem de dezenas de filmes nacionais e estrangeiros de ficção, cinejornais e documentários, revelando como o cinema vê e ouve o índio brasileiro desde quando foi filmado pela primeira vez, em 1912. São imagens surpreendentes, emolduradas por musicas temáticas e poemas, que transportam o espectador a um universo idílico e preconceituoso, religioso e militarizado, cruel e mágico, do índio brasileiro.

7 de outubro – Cinemateca
14 de outubro – Cine Guarani

17h – CRUZ E SOUZA – O POETA DO DESTERRO (1999, 86’)
Com: Kadu Carneiro, Maria Ceiça, Danielle Ornelas
Filho de escravos, João da Cruz e Sousa (1861-1898) recebe educação europeia e se torna poeta. Mas o reconhecimento de sua obra vem somente após sua morte. Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro trata da reinvenção da vida, obra e morte do poeta catarinense, fundador do Simbolismo no Brasil e considerado o maior poeta negro da língua portuguesa. Através de 34 “estrofes visuais”, o filme de Sylvio Back rastreia desde as arrebatadoras paixões do poeta em Florianópolis até seu emparedamento social, racial, intelectual e trágico no Rio de Janeiro.

19h – LOST ZWEIG (2003, 114’)
Com: Rüdiger Vogler, Ruth Rieser, Renato Borghi, Daniel Dantas.
Última semana de vida do austríaco Stefan Zweig, autor do livro Brasil, País do Futuro, e de sua jovem mulher Lotte que, em um pacto cercado de mistério, se suicidam após o carnaval de 1942, ao qual haviam assistido. Um gesto que ainda hoje, passados mais de sessenta anos, desperta incógnitas e assombro pela sua premeditação e caráter emblemático.

8 de outubro – Cinemateca
15 de outubro – Cine Guarani

17h – O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS (2010, 156’)
A Guerra do Contestado aconteceu na fronteira entre o Paraná e Santa Catarina, entre 1912 e 1916. Esse documentário investiga suas causas, desenrolar e consequências, com depoimentos de historiadores e também de alguns rebeldes mortos no conflito, incorporados por médiuns.

20h – O UNIVERSO GRACILIANO (2013, 84’)
Com: Oscar Niemeyer, Lêdo Ivo, Luiza Amado.
Um panorama da vida e da obra do autor Graciliano Ramos, falecido em 1953, e responsável por grandes livros da literatura brasileira, como São Bernardo, Vidas Secas, Angústia e Memórias do Cárcere. O filme reúne diversos materiais de arquivo com entrevistas de pessoas próximas ao escritor.

  • *A programação foi extraída do site da Fundação Cultural de Curitiba, que, junto com a UFPR e a Unespar, é promotora da mostra na capital do Paraná.

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